domingo, 28 de dezembro de 2008

Pobres dos Ricos


Neste 2009 cujo parto se adivinha anormal, para já com um atraso de 1 segundo, visto 2008 ter mais um que o habitual, e depois tanta neve e frio, vamos ver chorar e chorar com os ricos. Aqueles que ontem diziam que não arriscariam um chavo num investimento porque esses filhos da puta os não deixavam trabalhar, e engrossavam a voz respondendo-me que isso que tu dizes pá até era negócio, dava trabalho a muitos, desenvolvia a região, mas ninguém agradece e é bem melhor pô-lo a render, tu sabes onde, juro que não sabia, e assim ninguém me chateia. Investidores cheios de segurança nas dicas de bancários, seguríssimos plutocratas de duvidosa idoneidade, são esses agora que pedem aos mesmíssimos filhos da puta que os protejam e lhes devolvam aquilo que acham que legitimamente é seu. Que só fizeram um depósito a prazo, com outro nome, é óbvio.
A estupidez, o dolce far niente, a ganância ingénua e melíflua, de repente, num golpe de mágica tornou-os nos indigentes que sempre foram. "Só se sabe que perdemos aquilo que jamais tivemos", dizia o poeta. Coitados dos ricos e das ricas, com o "seu ar tão nobre e tão de sala" que davam cor e números à agência, presentes nas reuniões de boa vontade, nos chás de caridadezinha, na cedência absolutamente, este absolutamente é dito sílaba por sílaba e uma oitava acima, gratuita e generosa do seu tempo em campanhas das 15 às 17, hora a que sai o Martim João. Incapazes de aguentarem as dificuldades da produção de riqueza, a transformação, da manufacturação, caíram na especulação bolsista, numa panóplia imensa de produtos de nome e perfis de retroversão inglesa. Eram esses que de tempos a tempos davam um ar mais cinemático às vidas dos mais pobres quando associados. Recorria-se a eles e depois na aparente generosidade davam exactamente, ou um pouco menos, do que qualquer de nós daria depois de bem conversado. Depois há os mesmo ricos, os que exercem o seu poder sobre os políticos. Mentores duma promiscuidade sem vergonha, entre politica e economia, apostados num porquíssimo Portugálio. Naturalmente que isto é transversal a todos, muito poucos, os grandes ricos que recrutam no bloco central e às vezes nas franjas mais extremistas, sabedores que são que a juventude é a única doença que passa com o tempo. Agora que se fala de recessão e se tratam os banqueiros umas vezes como meninos de couro, meninos cuja carapaça ultrapassa o coiro dum hipopótamo, outras como criminosos, esquecemos quem ganhou com o petróleo a 147 dólares, quem especulou com os bens alimentares, quem serviu quem.
Pós 25 de Abril ouve duas coisas onde todos, isto é, a sociedade portuguesa falhou: na educação e na justiça. Na educação os especialistas de eduquês e na justiça os jurisconsultos que digam porque é que se pesca melhor em águas turvas. O próximo ano não vai ser assim tão negro, vai ser um ano como muitos já foram. O ser humano, enquanto espécie, soube sempre responder às dificuldades e problemas que lhe foram postos.
Talvez nem Marx, nem Keynes, nem Leão XIII tenham a solução. Talvez a ética e a estética estejam à espreita por entre estes dispositivos electrónicos por onde escrevemos e comunicamos.
2009 Ano da Ética mais libérrima regulada pela Estética.
Que coisa mais linda….

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal


Façamos um interregno neste carpir pela crise gerada pela ganância ingénua de muitos e pela ganância impudica e consciente de uns poucos. De qualquer modo ninguém duvida que a culpa é da ganância e que esta é quase uma segunda pele de muitos.
Mas é Natal e não choremos sobre o leite derramado. Bastante mais que a festa religiosa é entre nós o período destinado à Família. Actualmente a família nuclear deixou de ter três gerações, como quando fui criado, para ter apenas duas e muitas vezes na forma monoparental. Mas quando chega esta altura do ano as pessoas juntam-se em espécie de clã, quase sempre ligado pelo lado feminino. Haja Deus, assim ao menos não há erros biológicos. Pela primeira vez e mercê de vicissitudes várias e um tanto infelizes, passarei o Natal em minha casa com o clã da minha mulher. Engraçado como isso me faz sentir velho. Então é assim: agora tenho que ser mesmo simpático, cordial, atento, venerando e obrigado, como é minha obrigação, porque amigo, gordo, generoso, amante da boa conversa, como convém a um bom anfitrião creio tê-lo sido sempre. De facto, se conseguirmos ter menos reservas, ser mais verdadeiros e puros de coração o Mundo será um local melhor. Pelo menos neste período de meias, muitas meias…

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pátria


No mesmo dia ouvi duas expressões que me fizeram pensar. Num canal de cabo ouvi um espanhol falar dos Grandes de Espanha e alongar-se sobre as virtudes duns tantos. Ninguém se riu, ninguém achou estranho, ninguém olhou para trás. Tão pouco achei estranho, nada daquilo me soou mal. Instantes depois, na SIC notícias, ouvi um jornalista dizer que salvo determinado cavalheiro, em Portugal, mais ninguém podia dizer a palavra Pátria. Dizia ele e com razão que em alguns meios se tal palavra fosse proferida quem a ouvisse sentir-se-ia constrangido. Chegámos de facto a este ponto, incapazes de valorizar o que é nosso, envergonharmo-nos dos nossos maiores e na nossa filosófica não inscrição, matamos a terra que nos fez gente.
É pacífico dizer que um dos grandes escritores da nossa língua foi Eça. Mas também serei capaz de jurar que esta maneira de dizer mal de nós próprios duma maneira tão corrosiva a ele se deve. E isso pegou-se a toda uma intelectualidade que com sobranceria tem dominado a racionalidade portuguesa. Como não podemos todos ser Carlos da Maia fazemo-nos Dãmasos Salcede nas responsabilidades sociais. Não sei se um bom escritor tem que ser patriota e boa pessoa. O que me parece é que devemos ao autor daqueles dois personagens este negativismo maioritário. Há que fazer esforços para nos sabermos valorizar, obtermos e exibir orgulho nacional de qualquer forma, menos com pindéricas bandeiras aspergindo lágrimas pelas desgraças da selecção de futebol.
Morte aos Dâmasos. Vivam os Jacintos, vivam os Carlos da Maia.
Isto é uma forma de dizer que os mortos repousem em paz e vivam os vivos. Tomemos o caminho da Liberdade e construamos o Futuro. Enterremos o Salarzito que nos encolhe. Vamos por a nossa impressão digital naquilo que fazemos.Responsabilizemo-nos
Inscrevamo-nos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pulhices na Real Árvore Genealógica


Toda uma geração foi formatada, perdão, orientada no sentido de venerar respeitosamente a História de Portugal. Fui daqueles que gostaram de História e das histórias da história e sempre com h. Foi assim que aprendi, embora me tenham chegado ecos de acordos luso-brasileiros que determinam outra coisa. Aguardo pelos acordos luso angolanos, luso moçambicanos, luso s.tomenses, luso guineenses, luso cova da–moura e outros, depois farei a média, e saberei se escreverei com “e” se com “i” se com ou sem h. Até lá vai à maneira da Chancelaria Lusitana.
Fiquei a saber agora que um dos nossos reis mais venerados pelo povo teve um amante que por ciúmes mandou castrar. O homem que passou à História como um dos grandes amantes, tão cantado como Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta. Falo de D. Pedro I, do Justiceiro, do herói do fantástico romance de Pedro e Inês Os marialvas e outros homofóbicos que se cuidem, os seus Ídolos têm pés de barro. Já sabíamos que D. Afonso VI e D. João VI, (nenhum aguentou a mulher que as vicissitudes da politica lhes deu), às mesmas práticas se davam que o seu augusto antepassado, já que os seus camareiros tinham mais serventia que aquela que tradicionalmente lhes era reservada. Mas enfim, cada um come do que gosta e por onde quer.
Aprendi também que o formoso D. Fernando não só era dado às mulheres Leonores ou não, mas quando achou que a sua real testa lhe tinha sido ornamentada pelo Conde Andeiro apertou o papo a uma menina que a sua mulher tinha acabado de parir. Como não sabia se era sua se do rival, despachou a criancinha com as próprias mãos. Gente séria e temente a Deus. Sobretudo forte e valente, foi-se à criaturinha recém-nascida mas deixou o putativo pai e mãe sem problemas. Tomei conhecimento que o próprio Desejado às tantas pode ter sido vítima de pedofilia. Alcácer-Quibir fica explicado…
Li que um rei, (D. Miguel), alegadamente era filho do jardineiro da Rainha.
Uma coisa é certa, todas estas pulhices e muito mais foram publicadas num livro escrito por três doutíssimas senhoras com o título de “As Amantes dos Reis de Portugal” e editado pela “Esfera dos Livros”. Uma espécie de revista Cor-de-rosa tendo por observação não a última semana mas os últimos oitocentos e muitos anos. Talvez seja um estudo de História…

domingo, 14 de dezembro de 2008

Portugal é Lisboa o resto é paisagem


No decorrer da minha vida sempre que alguém se me dirigiu dizendo “sou de Lisboa” fatalmente que se seguia a expressão “desculpe não sei onde é isto ou aquilo”, “não sei como se faz” e outras tantas equivalentes. Na minha cabeça foi-se formando uma opinião sobre os que nasceram ou por lá viviam. Mais tarde quando tive que viver em Lisboa a minha opinião não se alterou. Uma ocasião assisti a um delicioso diálogo num encontro familiar, onde duas mãezinhas conversando com a respectiva prole uma disse para a filha, vês aqui a tua prima já está no 5 º ano (actual 9 º), ao que a menina cheia de prosápia e desenvoltura respondeu: mas eu sou de Lisboa.
Curiosamente, sempre que evoquei a minha origem e dizia que era da Guarda, cá de cima do meio da Serra, de forma que os "s" soassem a "x", era por termos já o caldo entornado e não para pedir misericórdia. Julgava que isto com o tempo se esbatesse, contudo, tenho tido necessidade de dizer ao telefone mais que uma vez numa só semana que “Portugal é Lisboa e que o resto é paisagem”. Verifica-se a todos os níveis que as decisões são tomadas de forma a ritmar a vida das pessoas e serviços em todo o País de igual forma sem ter em conta a opinião, os valores e contravalores dos que não residem em Lisboa nem querem residir.
A última agora é ouvirmos frequentemente na Rádio e na Televisão que isto está a acontecer ali às Janelas Verdes, é ali ao Príncipe Real ou venha ter connosco à Av. de Liberdade. Semelhante comportamento é válido para as rádios locais, jamais para canais de audição pelo menos Nacional.
Sabendo que numa faixa de 80Kms à Beira Mar entre Viana do Castelo e Setúbal vive 80% da população, e com o aquecimento do planeta será altura de pensar que as águas subirão sem clemência. Que tal ir dotando o interior de dispositivos e centros de decisão que paulatinamente nos foram roubando?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Bem aventurados os pequeninos


As pessoas muito altas ou com mais volume sempre tiveram a minha preferência. Não se podem esconder nem disfarçar na multidão, e apresentam-se sempre em low profile. Se começam a mexer-se quando incomodados têm a elegância dum elefante “saltando de nenúfar em nenúfar tornando-se invisíveis”. Raramente ascendem às mais altas posições. São verdadeiros, fazem estragos mesmo quando dormem. Uma espécie de bons gigantes que os pequeninos temem.
São os pequeninos que provocam a sedição, a revolta insana, o motim descabido. Sabem bem dividir para reinar. Reinam no mundo intermédio. Tanto usam os de cá como os de lá. Liliputianos lobos sem coragem, escondem a cobardia numa hiperactividade imoral. São gente sem honra de vez em quando com ataques dum peculiar priapismo. Mirram tudo o que é forte, erecto e são.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Refreshing


Frequentei algumas escolas de virtudes, entre elas a tropa, 39 meses e 19 dias, e a Banca, mais de 30 anos. Daí ter ficado a reconhecer como única ciência exacta a aritmética. Digo aritmética elementar, porque da exacta Matemática, muitas soluções para poucas variáveis, ou melhor, soluções à medida da variável mais interessante. “Os números depois de tratados (torturados) acabam sempre por dizer tudo o que quisermos”. Durante a minha vida profissional assisti a algumas revoluções, a da Organização e Métodos que permitiu racionalizar procedimentos e fazer uma colecção de anedotas, a da Informática que nos obrigou a marchas forçadas por montes e vales desconhecidos, muitas vezes sem bússola e finalmente a revolução do Marketing que anunciava brilhantes novas auroras, com a venda de exóticos produtos financeiros, mas que quem era portador da velha moral bancária adivinhava serem tristes e cinzentos pores do sol. Não era preciso mais que saber aritmética elementar e saber que as notas por si só não são parideiras. O dinheiro sozinho não produz riqueza. É óbvio que um marketing assanhado a oferecer crédito a rodos, sem a competente análise de risco, geraria números, só não se sabia por quanto tempo. Era em toda a parte vulgar conceder um crédito para pagar outro antes que este entrasse em contencioso. Se um cliente falhava duas ou três prestações renegociava-se o empréstimo e passava de 25 para 35 anos, creio que agora já vai em 40. Agora que a crise mostrou a natureza do mercado, Deus oco, servido por incompetentes e sem escrúpulos marqueteiros, querem apostar comigo que há só que fazer um refreshing? É sempre bom utilizar um termo inglês, dá solidez ao que afirmamos, como se faz no marketing, e antes do próximo Verão, começar outra vez a emprestar-se dinheiro, primeiro parcimoniosamente e depois a torto e a direito. Em Portugal, país pobre e sem recursos, de repente apareceram milhões para salvar a vida aos bancos mais aflitos. Para quê, senão para manter tudo na mesma, os ricos cada vez em menor número e cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e em maior número.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Multiplicai-vos


Titularia este post doutra maneira, mas agora que sou aposentado (velho) devo proceder em conformidade.
Após um breve manusear das Confissões de Stº Agostinho, lembrei-me que a minha terra é mulher, e prova disso é ser a única, não só a ter como a exibir o ponto G. Isto vem a propósito de todos sermos produto da realização duma pulsão. A mais forte da biologia, dotada da maior força psicofísica que se conhece. Dos jogos de sedução à violação de todas as regras já todos fomos perdedores. Já fomos capazes de perder tempo, liberdade, dinheiro, sangue, amigos e a moral se a tivéramos. Conheci castíssimas pessoas que souberam pautar a sua vida sem violar nenhum dos seus princípios, neste capítulo. Curiosamente, já na recta final das suas vidas, tive ocasião de apreciar como essa estranha factura era apresentada; em gestos e atitudes, quando o superego já se encontrava enfraquecido após muitos anos de feroz tirania. Creio que viver castamente é uma opção tão válida como outra qualquer, embora o imperativo categórico a ponha em causa.Venham comigo, deixemos as notícias do sub prime, do BPN, do BPP e outras quejandas malfeitorias, mais ou menos previsíveis.
No momento em que Portugal tem como maior problema a médio e longo prazo, a baixa taxa de natalidade, arranjemos argumentos para que os que estão em idade de procriar o façam. Já aqui escrevi que antes, uma criança vinha como uma bênção, que os velhos, do Restelo e os outros, matavam antes de nascerem, mas eram sempre um gáudio para os pais e para a comunidade. O bebé vinha com um pão debaixo do braço. Hoje, uma criança é um monte de problemas. Problemas de dinheiro, de procedimentos e mais uma quantidade de coisas, tudo sem manual de instruções. A verdade é que os bebés são o futuro. Sem eles, os nossos melhores sinais, alguém virá que imporá os seus.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Declaração de Interesses



Há muito que a expressão ”Cristo morreu, Marx também e eu próprio não me sinto lá assim muito bem” é do conhecimento de todos, para quem todo o amanhecer é uma vitória. Porém o mundo está hoje melhor que há cem, cinquenta ou mesmo trinta anos. Quem não pode distinguir o que é “além do homem” do “super-homem” não compreendeu o que “eu” entendo pela mensagem que em principio devia reger as sociedades ocidentais.
Vejamos a proposta nova, a pureza, a estoicidade, a miragem, a vertigem, a dádiva, o ser dotado do sentimento trágico da vida e suicida entusiasta, o semelhante presente, passado e futuro, razão de ser: Ecce Homo.
Não nos ajoelhemos diante do féretro de Deus, porque este não vai a enterrar. Regressemos à realidade pura e dura.
Mau e rentável é a venda farisaica de solidariedade. Ser-se solidário é bom mas dramaticamente doloroso, mesmo na época natalícia.
Cruzemos boas vontades agora que o Outono já moribundo deixa que o Natal nasça. Fugindo um pouco ao cliché, portuguesmente pintemos de vermelho uma cruzada contra a dor, minoremos o sofrimento, agasalhemos os que têm frio, mitiguemos o sofrimento.
Se todos temos uma cruz mais ou menos voluntária, porque não escolher uma de cor vermelha? Cor fantástica esta, que quando diurna é masculina e extrovertida, simboliza o trabalho e tudo o que é público. Quando nocturna torna-se feminina, intima e simboliza o escondido, o oculto. Cor do sangue, presença de ferro, garantia que viemos das estrelas para onde queremos voltar.

sábado, 29 de novembro de 2008

Vestida para Agradar



Nos dias de ver a Deus e à Joana era (é) normal as pessoas vestirem o seu melhor traje. Na versão actual, se for de festa, faz-se uma melhor produção. Dependendo do imediato encontro, assim será o nível do produto final. A minha terra, que é feminina até no nome, por mais teutónico que seja, hoje produziu-se para agradar. Vestiu a sua melhor roupa. Vestiu-se imaculadamente, qual virginal noiva do sec XIX. Um manto branco de pureza e inocência para cobrir as vergonhas dos ímpios que a maldizem.
E tinha razão, a sua mais bela filha de sempre fazia anos e era um momento único, havia que se ajaezar a condizer.
A parte feia foi descobrir que a sua querida filha não vinha comemorar os anos no seu seio. Trocava-a por terras de beleza mais constante, junto ao mar, sem a volúpia das amplitudes térmicas e da variação de cenários. Estas falhas quando vestimos os nosso melhor fato magoam muito, muito mais do que pensam os ausentes.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

27 de Novembro 2008





Hoje é feriado na minha fidalga e hospitaleira terra que também é feia, farta e fria. Que Júlio Ribeiro me perdoe a inversão dos adjectivos. Mas lá que é fria é. A fotografia que aqui se mostra foi obtida hoje às 10 e 30 da manhã na R D.José Alves Matoso e havia sol. Como presunção, água e vento cada qual toma o que quer, permito-me dizer que nesta terra, felizes a sério só houve duas pessoas, eu e El-Rei D.Sancho I.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

De volta ao Anel


Anel de oiro posto no cadinho, rituais gestos alquímicos, fogo e tempo. Eis uma espécie de acto mágico, de transmutação.
Vem isto a propósito dos anéis dos micélios, que por vezes nos transmutam em defuntos. Tiremos-lhe o oiro, e do cadinho façamos um vulgar tacho de cozinha. Aos rituais gestos chamemos abluções necessariamente internas com os desinfectantes iniciáticos, vinho, jeropiga, aguardente e outros santos óleos.
Há encontros e workshops sobre cogumelos, tortulhos, (agaricus campestrís) míscaros, sanchas e outros bolores. Desde tempos imemoriais que quem mais conhece e mais sabe disto são os pastores, e todos os anos lemos notícias da morte dum ou doutro que confundiu o comestível com o saborosamente fulminante.
Meninos de cidade sem formação nem experiência, pouco mais que iniciados, cavalgando novos rocinantes, vulgo TT, em breves semanas tornam-se experts na matéria. Apanham-nos em proibidos sacos de plástico e não na regulamentar cesta de vime com buracos suficientes para os esporos se espalharem. Não é o anel ou a sua ausência que os mata, será o fascínio pelo bosque, o pisar o risco, a adrenalina, o fogo, o desafio à morte, ou a inconsciência de impunemente poder violar as leis dos homens, de Deus e da natureza. Que falta a este mortífero anel?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Nem só os Anjos são da Guarda


Há dias, escrevia aqui que, na R da Trindade 8, viveram santos. Não era uma figura de estilo, era uma verdade factual. Tomemos um caso. Uma pessoa que nunca foi à escola, a única entre os seus pares que não sabia ler, embora dotada de fina inteligência, memória e sentido de humor, era dona do 6.º,7.º e outros femininos sentidos. Desde muito menina posta em casa da irmã mais velha, a quem chamava madrinha, ajudando a educar os sobrinhos, servir com devoção filial o cunhado a quem reverencialmente tratava por padrinho. Pessoa que nunca teve nada de seu, nem o nome, pois até isso lhe tiraram numa fútil quezília de baptismo. Enquanto pôde, frequentadora assídua da Igreja sem nunca ter sido beata ou com resquícios de farisaísmo, bem pelo contrário, brincava carinhosamente com algumas figuras mais ridículas. que comparava às sufragistas. Viveu desinteressadamente para os outros. Sempre a conheci um tanto surda e coxa, mas sempre muito atenta. Mudou fraldas e coleou camadas e camadas de sobrinhos directos, netos e bisnetos. De simplicidade absoluta, alheia aos conflitos no médio oriente dizia-se, quando a aborrecia, vítima das minhas judiarias, acentuando que eu era um judeu errante, mostrando a educação de determinada época. Pessoa que conheci sempre defensora e preocupada com o próximo, fosse ele quem fosse, era ela que tomava como suas, as dores, angústias e desejos de todos. Em momentos de apuro de cada um de nós, estivéssemos longe ou perto, punha os Santos à Lareira, isto é, punha pequenas lamparinas acesas a iluminar imagens de santos, que colocava em semi-círculo. Sofria com os que sofriam e também era capaz de rir com os que riam. Um ser social, que conhecia e falava com todo o mundo, foi desde muito cedo, mercê de doença nunca tratada, confinada ao limite interior da casa. Não é preciso procurar muito nos escaninhos da minha memória cenas de muito amor e de muita graça: as imagens mais queridas e as mais saborosas anedotas da minha meninice envolvem-na sempre. Porque sei que está, se passeia ou paira no melhor sítio, lá no lugar reservado aos melhores da nossa espécie, posso aqui publicamente dizer, Bem Haja Tia Aninha, nome por que todos a conheciam, verdadeira santa, por nos teres dado tanto a troco de coisa nenhuma.

domingo, 16 de novembro de 2008

Raspamos os Olhos


Incómoda coisa não vermos. Os sentidos atraiçoam-nos, pressentimos as coisas mas nem as vemos nem ouvimos. Cheiramo-las? Não me parece, não têm cheiro. Apalpamo-las? São factos que ocorrem longe de nós. E quanto a sabor, sabem a trampa, de certeza, mas não passam pelo nosso nariz ou boca. Os casos de Percepção Extra Sensorial são raros, mal estudados e aparecem nos circos, sempre de mão dada com a intrujice.







Então raspamos os olhos, mas eles não vêem.
Chateamos meio mundo, sentimo-nos paranóicos.
Então raspamos os olhos.
Não há trave, nem remela, nem argueiro.
Vemos tudo menos o que queremos
Por mais que raspemos os olhos
Não vemos o que tememos

sábado, 15 de novembro de 2008

Não lhe apertei o papo


Ainda o dia de ontem não tinha sido dado como morto quase me zangava. Comigo é sempre assim, quando a coisa azeda soltam-se gases mais mal cheirosos que numa boutade de Bocage. Nas costas dos outros vemos as nossas. Achei sempre isso má-língua e mediocridade. Mas não foi. Recuperemos a questão. Sobre uma informação técnica uma altercação entre duas pessoas, uma técnica outra leiga. Entro na discussão e desato a pugnar pela educação e pelo bom português. Tudo dentro dos parâmetros da normalidade não tivessem ocorrido em simultâneo alguns factores: estarmos num hospital, o tipo ser médico, falar mal português, enganar-se e a doente ser minha familiar. Já sabia que era assim, mas vi claramente visto, que o principal inimigo na perspectiva do médico é o acompanhante do doente. O tipo um pouco mais alto tinha o meu peso. A proporção era justa, embora ele fosse mais novo. Não me metia medo. Foi intocável por ser colorido. Apeteceu enganar-me e ser tão vil, tão burro e tão mal-criado quanto ele. Mas não fui, saí por uma porta e entrei por outra. É bem verdade, o senhor só será livre quando for liberto pelo seu escravo, Hossana Obama, Hossana Obama, Hossana Obama…vamos dizer isto três vezes ao amanhecer, todos os dias, nas próximas semanas até 20 de Janeiro.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cuidado com o que se deseja




Quando o dia de ontem morreu estava numa de solidário.
Egoísta, Baby Boomer pós Segunda Guerra Mundial porque hei-de ser solidário? Quem aceita escalas de valores imutáveis? Somos sempre nós e as circunstâncias, Ortega y Gasset dixit. Quando eu delibero os dados estão lançados, diz J P Sartre. Isto eram postulados. “L'enfer c'est les autres“ não se aguenta. Decididamente aí e depois de muitos textos, peças de teatro e de alguma conversa, a coisa esbate-se e amadurecem ideias menos práticas e mais éticas, paradoxalmente menos conservadoras, mais revolucionárias. Respondendo positivamente a tudo o que é novo, desde a carne ao espírito, precocemente comecei a não acreditar a não ser nos seres de carne e osso. Deixei de pensar no Zoo Politikon e no Bípede Implume. Tive a pouca sorte de a sorte me dar quase exactamente aquilo que pedia. Deve-se ter cuidado com o que se pede porque às vezes a sorte concede o que pedimos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

S Martinho e o novo Imperador


O dia de ontem morreu com o título de Dia de S. Martinho. Óptimo dia para o fígado e outras miudezas. Comeram-se as castanhas, bebeu-se jeropiga e provou-se a água-pé. A maioria das pessoas já nem sabe o que é isso de água-pé. Trata-se duma bebida de baixo teor alcoólico obtida a partir duma espécie de lavagem do bagaço do vinho. Mas tudo muda, e neste mundo composto de mudanças, até o tempo de S Martinho mudou. Nem o solzinho do Verão do santo marcou o ponto, amanheceu e morreu com nevoeiro e chuva. Às tantas já não há pobres, para o santo dividir a capa. Que bom que era. Há cada vez mais pobres e duma pobreza envergonhada.
Já se assam os magustos no baloiço das crianças. Não é que alguém queira mal às crianças; não há é crianças, ninguém acredita no futuro. Sinal de responsabilidade individual e de egoísmo social, ou só de egoísmo. Antes, uma criança vinha como uma bênção, que os velhos, do Restelo e os outros, matavam antes de nascerem, mas que eram sempre um gáudio para os pais e para a comunidade. O bebé vinha com um pão debaixo do braço. Hoje, uma criança é um monte de problemas. Problemas de dinheiro, da legislação aplicável, de procedimentos e mais uma quantidade de coisas, tudo sem manual de instruções.
E a mudança vai-se fazendo…
A propósito de mudança, falemos de outro santo
A coisa mudou e a mudança trouxe-nos um Imperador eleito, colorido, um senador democrata, poético pregador de belíssima voz, de palavra inspirada e inspiradora, que parece falar directamente ao nosso coração. Obama vai trazer-nos alguma mudança, ou pelo contrário, alguma coisa já mudou para que tudo ficasse na mesma, e a mudança já foi.
Os meus piores receios não se concretizaram: aquela Governadora da Terra dos Ursos não será por agora que chega a Duquesa do Míssil. Persiste, como é lógico, o medo que esta promessa de nome Barack, não viva o suficiente, para que possa ajudar a provocar reais mudanças, que julgo possível, entre outras uma: a que todos saibam, entendam, percebam, que fique inscrito na sua mente que há só uma raça, a humana. Como uma amiga, outro dia me dizia, rezemos-lhe pela vida, para exorcizar o medo de lhe rezar pela alma…

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

R da Trindade 8 - Fim (por agora)





Em 1970, a casa alugada pela minha gente desde o inicio do século, foi entregue ao seu proprietário, o Sr Pissarra, já falecido. Herdou-a a filha, Srª D Leontina. licenciada em Historia e casada com o Sr. Eng Telmo Cunha. Estes, pouco ou nada sabiam daquela casa. Não viveram na cidade e as ligações a esta eram pouco mais que ténues. Ela conheceu vagamente et en passant um ou outro de nós, ele nem isso. A vida tem destas coisas, consegue ser sempre mais fantástica que a ficção. Nesta caso, volvidos mais de trinta anos, após a casa ter sido deixada pela minha família e depois de ter sido habitada por outros, quiseram as leis do acaso, que aquele casal a olhasse com olhos de ver. Deverá ter sido uma opção de ambos. Mas quem a leu e descobriu a chave, o segredo mágico e oculto, creio ter sido o homem das barragens. Reconstrui-a à sua maneira,recriou-a como a sentiu, mais tempo na obra menos no estirador, pedra a pedra. Fez nascer um lugar único. Verdadeiro santuário, onde a harmonia e contraste, muitas vezes mostram a síntese entre diversas culturas, tempos e maneiras de ser. Basta ver o acervo museológico de peças regionais.Algumas encontradas no entulho da casa, outras aqui e ali recolhidas e reabilitadas por artistas artesãos a quem pagou do seu bolso. Este casal devia ser tratado como mecenas que são. Além da recuperação desta casa, outros meritórios trabalhos têm feito na cidade. Mas a minha terra continua na mesma, continua a ignorar os seus melhores filhos, naturais ou adoptivos, que de maneira generosa a melhoram, embelezam, e a tornam com uma personalidade irrepetível.
Em tese, é um verdadeiro milagre, este senhor ter percebido o sentido oculto e universal da casa. Longo deve ter sido o diálogo entre ambos, a casa e ele. Porque dessa conversa nasceu, um museu, uma casa de habitação, uma espécie de templo. Sem dúvida uma mais valia para a cidade e para todos. Há que ir lá e ver. A sala de jantar dos meus avós, onde os nossos Natais eram intensamente comungados, é hoje um local de várias expressões de paz. Não pode ser só coincidência…
Sei que a Câmara não nada em dinheiro, mas a verdadeira economia reside em saber gastá-lo, sobretudo naquilo que fica, e não arde na feira constante das mudanças. Eis um local que tem a ver com a memória, com a história, com a beleza e com a idiossincrasia não só duma família, mas também duma cidade. Não puxo por galões que não tenho, pelo contrário, atribuo todo o mérito àqueles que a expensas próprias criaram um sítio ímpar, respeitando os pergaminhos da Casa, que para mim, e para muitos, bastantes casas depois, é ainda a casa das casas.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

R da Trindade 8 - Parte II


Aqui viveram santos.
Era a casa onde viveram e morreram os meus avós e onde imensa prole foi educada com a colaboração sempre atenta duma irmã de minha avó. O meu pai, irmãs, irmãos, e alguns primos, ali aprenderam com quantos paus se fazia uma canoa. Estes primos, eram para mim tios, já que os meus avós os educaram como se filhos fossem.
Depois vieram os netos, às camadas.
Nesta casa havia uma diferença que era a pedra de toque: o respeito incondicional pelo próximo, pelo nosso semelhante, o outro como razão de ser, valores que ainda hoje são verdadeiramente revolucionários. Os Dez Mandamentos, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a encíclica Pacem in Terris foram textos comentados e na medida do possível vividos. Sem exclusões, nem por motivos de cor, que o diga o Alberto Preto,ou por deficiência, que fale o Abel Doido, ou por motivos politico/religiosos que o digamos todos. Falei daqueles porque já mortos e sem descendência. Eis pois um verdadeiro Templo. Com uma fundamental diferença, a obediência ao chefe legítimo, não a outro mais forte, e respeito absoluto pelos direitos do outro: este será sempre mais importante que tu, o mais velho porque é mais velho e o mais novo porque é mais novo. Este era um dos princípios que entrava em conflito com o instinto de afirmação pessoal. A síntese deste conflito, de alguma forma, moldou o carácter de muitos de nós. Mas fez mais, fez com que os cavalheiros duma prestimosa instituição a guardassem, e arrecadassem um ou outro, mesmo que às vezes fosse por engano. Insisto pois, que para além das piedosas práticas de todos os que a habitaram, aquela casa foi uma Igreja, verdadeiro templo universal para a paz entre os homens de boa vontade.
Possivelmente irei exagerar, mas permito-me dizer que ali se viveram os Natais mais felizes, que podia haver. Durante o resto do ano tinha-se carinho, tinha-se amor e tinha-se toda a atenção. E esta não era necessariamente doce, porque se manifestava logo de manhã ao acordar, antes de qualquer higiene: diz qual a relação de parentesco entre D. João II e D. Manuel I, o que é um substantivo epiceno, quais os afluentes do Rio Tejo na margem esquerda, qual o volume dum cilindro com um cm de raio e dois de altura, e outras tantas questões perfeitamente despiciendas

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

R da Trindade 8 - Parte I


Construída na antiga judiaria foi casa de judeu com toda a certeza: porta larga para o comércio e porta estreita para a residência. Era a Casa das casas, a essência de todas as casas. Era grande, tinha história, calor humano e era o centro de todo um Universo. Gerações ali foram criadas.
Aquela casa foi o domicílio duma família, foi escola, sopa dos pobres, igreja, casa de saúde e repouso. Sei do que falo. Vivi lá.
A maioria das recordações de infância e adolescência, os sonhos de grandeza e sacrifícios, receitas infalíveis para a salvação da humanidade ali nasceram e ali foram acarinhados na loucura dos meus verdes anos.
Falar daquela casa é possível, mas de quem lá viveu, não me acho capaz. Posso referir-me a alguns dos frequentadores, que serão hoje o seu único registo histórico, a pen-drive ainda disponível.
Acedia-se à casa por uma escada, entrava-se no hall e à esquerda um pouco mais longe a cozinha. A mesa oval de madeira, sempre posta, o fogão de lenha sempre aceso.
Na escada, nos dias marcados, juntavam-se pessoas e ouvia-se: - Estão ali os pobres de tal terra, ou num tom mais sombrio, estão ali os doentes do Sanatório. Isto não correspondia exactamente à verdade, porque a verdade era mais pesada. Estavam ali os doentes que tinham estado no Sanatório e de lá tinham sido expulsos. Deserdados da saúde e da sorte a todos os níveis, mantinham-se na Guarda pelos seus bons ares. Todos tinham a sua própria louça, que era lavada e guardada à parte, num velho armário de tom azul.
Escola selecta de muitos que se preparavam para o exame de admissão ao Liceu, verdadeiro tirocínio para quem queria voar até ao ensino secundário.Também foram centenas de candidatas a Regentes dos Postos de Ensino, que habilitadas com a 4ª classe, ali fizeram uma espécie de pós-graduação que as preparava a fazerem um “Exame de Estado”. Se aprovadas, passavam a Senhoras Regentes, espécie de professoras/monitoras num tempo antes da pílula, em que a população se reproduzia com acinte, e em que a doutrina oficial era que o português médio devia saber ler escrever e contar.
Durante muitos anos aquela casa, numa área suficientemente grande, foi a única com telefone, o que só por si a tornava um serviço público.

domingo, 2 de novembro de 2008

Fieis defuntos

O tempo passa para todos, hoje é um dia, amanhã já é outro, e o dia de ontem morreu. Lá rumámos aos cemitérios. E de lá saí tristonho e com um nó nas tripas, não só porque evocámos quem evocámos, mas mais pelo que vimos, naquela enorme e inútil feira de vaidades. Nunca me perdi de amores pelos americanos ou pelo seu estilo de vida. Admiro os seus cemitérios, prados verdes semeados simetricamente por cruzes alçadas e em cada uma um nome e duas datas. Uma simplicidade quase total e um requinte que não são exactamente o timbre do Tio Sam. Impressionou-me bastante ver duas flores cruzadas, como se fossem espadas, aos pés das campas da minha gente, ali colocadas por ignota mão. Este ignota lembra Soares de Passos e vem muito a propósito, adequada que é à época.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SEMPRE MELHOR

O dia de ontem morreu e com ele algumas dúvidas. Nasceram novas esperanças. Trago aqui, à laia de tradução, uma história igual a muitas que conhecemos sobre descobertas ou invenções terem ocorrido em simultâneo em lugares dispares da Terra e usando processos diferentes. Há uma experiência muito curiosa com macacos postos em duas ilhas, sem hipóteses de comunicação entre elas. Em ambas as ilhas não havia outra comida que não fosse batatas sujas espalhadas pela praia. É conhecido o grau de exigência dos símios com a higiene daquilo que comem. Obviamente que os dois grupos eram monitorizados. Quem coordenava a experiência esperava que algo sucedesse, mas já desesperava e estava capaz de suspender o evento, porque uma grande parte definhava e adoecia vítima da fome. Eis senão quando, quase em simultâneo, em ambas as ilhas, um dos macacos lavou uma batata na água do mar e comeu-a. Depois, por mimetismo, todos começaram a lavá-las e a alimentarem-se. Tudo se passou como se os dois grupos participassem de algo mais que eles. Ambos partilhavam dum anel mágico a que por comodidade vamos chamar inteligência. Não é exactamente o anel de Joseph Campbell. Lembremo-nos que nós chamamos Nónio ao que outros chamam Vernier. Os exemplos são inúmeros. As ideias não nascem apenas num indivíduo. Por isso não temo por aí além a tão propalada crise provocada pelos plutocratas, carenciados marketeers, ou melhor,acéfalos marqueteiros.. A humanidade sempre soube responder aos problemas que lhe eram colocados. O grupo incuba a necessidade de resposta, como se fosse uma doença, e depois explode a solução em mais que um dos elementos: os Alfas da inteligência e imaginação, os que detém um especial controle espaço-temporal. A minha convicção é esta, todos nós, seres viventes, participamos nesse caldinho, nesse anel mágico donde vem tudo o que é novo, não de tudo o que é bom, e que às vezes se materializam em anéis fantásticos, desde a roda, primeiro excepcional anel, ao acelerador de partículas LHC, último anel a considerar,the last frontier, até agora.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sabedoria




Evocar a imagem dum Pardal dá mais sabedoria e serenidade que mil tratados de Filosofia.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

OXALÁ EU ME ENGANE

Os Europeus dizem que o não são, mas são. Os Americanos são-no e dizem-no. O racismo é responsável por comportamentos bizarros, estúpidos e pouco humanos. Há uma só raça: a humana. Depois há pessoas louras, cabelo preto, amarelas, pretas, altas, baixas, gordas, magras, etc. E há grupos muito diferentes uns dos outros na aparência. O outro ser diferente, é motivo de perturbação: da desconfiança ao medo. Essa é a verdade e a razão de ser do racismo, da xenofobia e outras coisas caras aos neocons.Como rirão os franceses com este termo. Também há outros neoparvos deste lado de cá do Atlântico.Tenho para mim seguro, que o senador Barack Obama não será eleito, para bem dele, porque se o for, será com toda a certeza abatido nesse imenso matadouro onde ficaram Kennedy (John e Robert), Luther King, Malcom X e outros. Mas este, quase diferente, quase africano, quase caucasiano, apesar da vantagem que lhe dão as sondagens, não será eleito, porque para os paladinos da Democracia, na solidão da câmara de voto, não são as melhores e mais conscienciosas razões que determinam o sítio da cruzinha. Oxalá não tenha razão, mas McCaim será eleito. Como não é exactamente uma criatura da extrema direita, poderá morrer de forma mais ou menos natural, no prazo de dois anos, dadas as contradições que advêm da guerra com o Islão. Então, eis que temos a Imperatriz da América, Rainha dos Ursos, Marquesa do Canhão, Condessa do Fuzil, Baronesa do Colt 45. Ao que se sabe e apesar das aulas com Kissinger, ainda não conseguiu aprender o nome de todos os países, quanto mais a sua localização. Já foi Miss Alasca, será tudo o resto, esta cabeça de sopeira, sem ofensa a estas. Melhor que Cleópatra, sem ter que seduzir Júlio César, ou Marco António. Será então ela a tentar impor a Pax Americana.
E estamos nós, duma forma ou doutra, na mão de tal gente.
Quando o dia de ontem morreu, isto era possível.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

LHC

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No fundo do caldeirão, um anel mágico. Seguremo-nos aqui nas bordas, agarremo-nos às nossas certezas e confiantemente vejamos para lá do brilho do anel e registemos entre outros, os fantasmas, os elfos, e outra bicharada pouco recomendável que se passeia pelo fundo. Naquela sopinha de ilusões, de medos, de esperanças, de superstições de densidade variável, há criaturas fortes de corpo e mais de mente, pessoas de ciência certa. Não há diabos em forma de gente, há é muita gente a querer ser aprendiz do diabo. É um anel que Deus deixa que exista, não é fonte de mal e é quase ausência de bem. Não é novo nem velho este intemporal sítio. Ao certo ninguém tem a certeza se aquele caldeirão é um sítio ou um momento. Para já, agora que o vimos é certo que não nos podemos limitar a levantar problemas, é a altura de apresentar soluções ou pelo menos tentá-lo. Demorou a chegar, mas este Outono fugidio está a obrigar-nos a ser adultos. Via televisão, quando o dia de ontem morria, tivemos todos essa certeza.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

NÃO NEGOCIÁVEL

Ontem já o dia moribundo, por um instante, acreditei. Há momentos inegociáveis, religam-nosPosted by Picasa

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mercado ou Bezerro de Ouro

O dia de ontem morreu e foi como todos os outros há uns tempos para cá. Eminentíssimas Sapiências falaram da crise do Mercado. Bezerro de Ouro e eles, comentadores, políticos, economistas, jornalistas e outros, seus fiéis sacerdotes. Descrevem o seu mau humor e diagnosticam-lhe as maleitas. Explicam a sua perca de peso como se fosse atacado por uma hemorragia de metais preciosos feitos em merda.Dão-lhe transfusões de capitais dos orçamentos de estado. Falam com rigor religioso e pedem sacrifícios. De forma melíflua pedem o sangue das vítimas. No areópago duma qualquer chancelaria, no altar dum banco ou numa sessão bolsista. Ouçam-nos a utilizar expressões como: dinheiro é sangue e sangue é vida… O Mercado, esse Deus sempre tão querido aos americanos, “In God we Trust”, tantas sevícias sofreu que resolveu revoltar-se e mandar os seus oficiantes às malvas. Antes assim fosse. Mas que as vítimas somos nós não duvidemos. Dos desmandos dos plutocratas seremos sempre nós os melhores fiadores e os mais fiéis e primeiros pagadores.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

À espera do texto

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Outono passa... tão depressa

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O dia de Ontem Morreu



O dia de ontem morreu a noite passada

Anunciada como certa, a morte era esperada.

Finou-se um dia morno e sem história

Melancólico, sem cor nem glória


O dia de ontem igual a muitos, a todos,

Encantou medíocres felizes e tolos.

Pesou triste, pardo e lamacento

Na garganta que trava o real lamento


O dia de ontem foi semi-estático

Semi-preto, semi-branco, cinzento

Nem sequer foi um dia … prático.


Foi mais um dia assim meio pardacento,

A canalhice globalizante acordada

A imaginação ausente e o saber ciumento



Júlio Valentim



Ozendo .Outubro 2008