segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Frio, Natal e Esperança


Chegámos ao Natal e desta feita um pouco mais caro, já que fomos premiados com mais frio, gelo, neve e a inépcia de nos adaptarmos ao que nos envolve, pois nunca mais aprendemos a ser o que somos, serranos a viver numa serra. Neve fofa de postal ilustrado é uma coisa, ter de caminhar sobre gelo e papas de neve é outra. Tudo emperra e os opinions makers de café , alguns já bloggers encartados, têm a sua melhor oportunidade de exercitar as meninges e destilar veneno. Pois bem, devo estar a ficar com o coração mole, (as meninges sempre o foram), pois parece-me que este ano se concretizou de maneira inteligente uma solução prática, barata e expedita, entre outras: cortar efectivamente o trânsito em algumas ruas. Não foi possível manter as pessoas em casa, nem seria caso disso, impediu-se que os condutores dos 4X4 mostrassem as suas virtuosidades, mas permitiu que os serviços básicos e urgentes funcionassem. Parabéns a quem assim decidiu.

É Natal e vamos todos mostrar as nossas melhores caras e feitio que não temos. Infelizmente, por esse mundo fora, continuam a nascer meninos em palhotas, ou menos que isso, e em cada um, porque irrepetível, uma promessa de novíssimas humanas alvoradas. O melhor do mundo e do Natal são e serão sempre as crianças, e bem lá no fundo de cada um de nós, ou lá atrás esquecida numa das curvas da vida, está uma outra criança sem medo do desconhecido e fé no futuro. Esta criança é quem nos dá ânimo ao acordarmos todas as manhãs e há-de afugentar os papões que já não estão em cima do telhado mas no ecrã da televisão.

A EU decretou hoje o fim da crise e a nossa maior e patriótica obrigação é mandar embora as aventesmas e elevar o espírito e a alma da nossa gente.

Comecemos por ter fé em nós próprios e esperança no futuro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sincelo e democracia


O IVA e os escalões de IRS são os mesmos para quem viva no litoral ou no interior. As oportunidades que têm os que nascem dum lado ou do outro não são as mesmas e não vale a pena discutir isso. Mas vale a pena pensar que se os impostos são iguais e as oportunidades não, à semelhança dos Açores ou da Madeira deveria haver contrapartidas. Falou-se muito da insularidade e fala-se mal da regionalização, mas é muito baixinho e muito pouco que se falou da interioridade. Dentro de dias aparecem aí uma tantas sumidades a defenderem uma regionalização que o povo já recusou, mas que há-de ser referendada tantas vezes quantas as necessárias (lembram-se da Irlanda?) até se obter o resultado desejado e ninguém dirá que uma boa parte do rendimento duma família que viva na Guarda é para aquecimento, coisa que não passa nem perto duma qualquer inteligência lisboeta. Em tempos que já lá vão a electricidade era mais barata na Guarda por causa do frio. Criar um movimento de opinião de forma a termos gasóleo doméstico, gás ou electricidade mais barata para as regiões mais frias é uma pura perda de tempo; primeiro somos poucos e menos votos que os beneficiários do rendimento mínimo e depois só cá vive quem quer.
Repare-se neste paradoxo: têm mais poder reivindicativo os magistrados do MP ou os maquinistas do Caminho de Ferro (quantos serão 500, 600, em cada grupo?) que todos os habitantes dos Distritos do interior.
Poder democrático, coesão regional, justiça…social, como, onde?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tele estar


Presença

Ausência

Intermitente…mente,

A ausência presente.


Suprema felicidade

A ubiquidade

A telepresença.

Recriámos a ausência

Sendo presentes.



A presença ausente

A ausência presente.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

E se...


E se por uma vez fossemos originais e na Guarda guardássemos para outra ocasião as cópias e criássemos. Se por uma vez fizéssemos uma coisa que realmente valesse a pena. Se em vez de se fazerem mega centros comerciais aproveitássemos oportunidades, dinheiro e energias e se fizesse do casco histórico, todo ele, um enorme e único centro comercial. Se lugares esconsos e mortos, por muito históricos que sejam, de repente ressuscitassem e fossem iluminados e iluminassem o nosso apetite consumista. Não me digam que é impossível limpar grande parte da área que foi amuralhada, alindar o chão, paredes, portas e janelas, cobri-la, iluminá-la, semiclimatizá-la, dotá-la com todo o equipamento moderno, cobrir as pedras que necessitassem de vidro ou acrílico e termos um Centro Comercial belo, com todas as valências e marcas, original e incomparável porque habitado e vivo? O rés-do-chão área comercial e o primeiro andar habitação, por exemplo.
Não se pretende construir um centro comercial no centro histórico, pretendo é que se faça do centro histórico um centro comercial, com vida, história, modernidade, e gente.
Sonhar não é sujeito a IVA e de resto a ideia é à borla.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Nosso Agente em Castela


Não é meu costume frequentar centros comerciais, mas em dois dias seguidos entrei num e a última vez ontem, feriado religioso. Por lá ouvi algumas vezes, poucas para o meu gosto, hablar castelhano. Devia ouvir mais. Deviam ser mais. Entendo que eles e os seus euros são uma das soluções. Há sempre a parte do leão e a parte da raposa e nestas coisas a cada um segundo o seu tamanho se para tanto houver inteligência.

Não acho impossível a instalação em Salamanca ou Cidade de Rodrigo ou em ambas da Agência da Guarda. Uma agência que tivesse por objectivo uma permanente, diversificada e inteligente campanha de promoção da nossa terra, não necessariamente dos locais onde estão instaladas as marcas espanholas, mas de tudo o que temos de genuíno e bom. Tenho a certeza que se não houver algum entrave burocrático ou diplomático pormos um par dos nuestros hermanos (nossos agentes em Espanha, pagos pela cidade, coisa fina) a trabalharem para nós e em articulação com os nossos serviços e interesses é uma troca de efeito garantido.

Já sei, já sei que vozes de burro não chegam ao céu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Salvadores e pastos


Somos um povo curioso com uma idiossincrasia única. Tenho aqui comigo o Em busca da Identidade de José Gil e leio na página 10 “que somos portugueses antes de sermos homens” numa conduta omnipresente, que engoliu o mundo e permite, assim, que os seus sentimentos flutuem errática e espontaneamente. No caso português, “o sujeito ‘vive¬ se’ como um zero social e pessoal, um falhado, e queixa¬ se de tudo e de todos –– queixa¬ se do ‘país’, nunca de si próprio” (p. 15)
Cada um vive como se o País não fosse dele, digo eu. São os papéis mandados para o chão, é o fumar em lugares onde não se deve, é fazer uns biscates e umas negociatas mas sacar o rendimento mínimo, é pedir que nos ponham na rua para receber o subsídio de desemprego, resumindo, o desrespeito permanente pelo espírito da lei e pelo dinheiro que é de nós todos.
Para o cenário ficar completo convocam-se as carpideiras contratadas pelas televisões a derramarem lágrimas de crocodilo por uma dívida que ajudaram a criar. Isto justifica que determinados factos que seriam politicamente irrelevantes se tornem hiper-fenómenos, e parece haver um D Sebastião, no meio de espesso nevoeiro a comandar as centrais de informação.
A subliminar crença que só há uma solução, esquecendo que um problema tem várias soluções, (um problema em democracia resolve-se com mais democracia, muitos desenlaces) e apelos de jurisconsultos de proveta não sufragados pelo povo a quererem ser Baltazares mas garçons, só de mesa, eis a ideia do caminho único, da despolitização.
Pergunta-se, a quem serve semelhante pasto?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O amor não se adia


Após titular assim um texto a minha mulher e os meus mais próximos dirão que a partir de agora, declaro-me oficialmente louco. Dissiparam-se as dúvidas, enlouquei de vez.

Não deixei crescer a barba nem vesti a camisa negra, agora que me debruço sobre o abismo dos sessenta. Não deixei que uma nuvem ou asa negra cobrisse o meu pouco luminoso espírito. Suportei e partilhei as minhas dores com quem prometi um mar de rosas, e a quem dei apenas o mínimo exigível no casting.

Sombras tenebrosas, dos azares de terceiros primeiro dos segundos, à curva da saúde, tudo nos anunciou fins apocalípticos.

Há coisas que não se pensam e muito menos se dizem ou escrevem neste Dezembro frio.

Assustemos de vez o medo.

Antevejamos O Natal, sintamo-nos alegres e expectantes na nossa

PrimaVera

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Pecador me confesso


Quem vai para o céu perde o sexo e torna-se serafim, querubim, trono, dominação, potestade, virtude, principado, arcanjo ou um vulgaríssimo anjo. Não há anjas embora o pareçam e em rigor devia dizer-se e escrever-se anjes, como diria o meu amigo Carlinhos.
Os anjos só ganham asas depois de prestarem provas. Vencer o rancor, ultrapassar o ressentimento, numa só palavra perdoar. Creio que por mais inocente que seja, jamais ganharei asas, não porque guarde rancor, ou por ter ressentimentos, mas porque embora saiba perdoar, não esqueço nem aprendo. Às minhas angústias e mágoas sei dar-lhes cor, forma e nome. Às pancadas que tenho levado julgo ter sabido quando devia dar a outra face, (presunção, água e vento cada um toma o que quer), ou o competente, pedagógico e forte coice. Mas terei sempre aprendido a conviver com os meus defeitos e com os dos outros???!!!...
Além de perdoar tenho a pretensão de distinguir justiça e vingança. Mas como não esqueço, acho que não aprendo, temo não ser justo e cair na ignomínia do rancor.
Eis um deplorável, confessional e catártico post conveniente ao dia de hoje.