quarta-feira, 29 de abril de 2009

Porque somos assim


Somos aquilo que comemos, diz-se e eu concordo. Não só o que comemos como sustento, mas também aquilo que alimenta os nossos olhos, desde a paisagem, ao filme, à televisão aos jornais e livros que lemos, à música que ouvimos, as palavras e conversas que escutamos. Tudo o que cheiramos, tudo o que tocamos. Tudo o que sonhamos até.
Somos fatalmente aquilo que experienciamos. Dois gémeos monozigóticos podem ser e são pessoas de espírito diferente.
Avisam-nos do mal que nos faz comermos banha de porco. E ouvir música pimba, lermos um tablóide, pegarmos num sapo, tentar apreciar o aroma duma ETAR?
Que homens seremos após assistirmos a um telejornal? Só pode ser feios, porcos e maus…

terça-feira, 28 de abril de 2009

O Barulho das Luzes

Fui educado e eduquei a respeitar e fazer respeitar os titulares do poder judicial, já que mais não fosse como contrapoder ao bruto poder policial. Desde o tempo da outra senhora e inclusivamente após o mergulho no mar da liberdade respeitei os magistrados que mantiveram uma verticalidade digna de nota. Os tempos foram passando, os cargos começaram a ser ocupados por pessoas com formação cívica e intelectual diferente e hoje vemos magistrados à procura ou perturbados pelo barulho das luzes.

Continuo a pensar que a culpa é duma autoridade que de facto não é regulada pela lei. Regula-se pelas leis do mercado e os intervenientes em vez de darem a notícia, produzem-na. Não relatam factos, fazem parir factos e induzem comportamentos, sabendo que comportamento e atitude geram postura e conduta.

Nas mãos de jornalistas sem escrúpulos, licenciados pelas melhores Universidades da iniquidade e da maledicência há pessoas incapazes de viver com o barulho das luzes e conseguem impunemente cometer as mais vis injustiças.

Reconheçamos que vai haver vida para lá da crise e não podemos continuar a falhar nas duas questões não resolvidas pela solução democrática, a justiça e a educação, já que estas só por si irão julgar e punir os agora réus

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril


Honra e glória aos que quebraram as correntes que agrilhoavam até a alma de todo um povo, história que está por fazer.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Aprendizes de feiticeiro


Já as horas eram liquefeitas, verdadeiras espadas de fogo caíam, o corpo tomba enquanto da boca sai um som plangente mas inumano. O cadáver antes de desaparecer no nada entra num movimento ritmado pelos trovões de nuvens esverdeadas.
Quando nasceu estava a mãe … e ele. Agora está ele e o seu filho, o monstro que criou contra tudo e contra todos. Aquele projecto, consumado com a obstinação dum suicida, como solução energética do Mundo e desenvolvido a partir duma estranha mistura de Física e Esoterismo levou a este remate de tudo, como se Deus sacudisse o tapete de que é feito o continuo espaço-tempo.
Conseguiu mais que queria, pretendia resolver um problema e duma penada resolveu todos os problemas de todo o Mundo.
Os nossos políticos por vezes abordam os problemas com o mesmo espírito suicidário que aquele anti-herói naquele quadro nascido no meu espírito enquanto assistia, via televisão , a um debate político. Deve ser, melhor, é mesmo defeito meu, quando ouço alguns políticos ter visões apocalípticas com aquelas vozes colocadas como se fossem do outro mundo, aquela posição rígida de cãibra no pescoço, olhos esbugalhados e em alvo, tudo apontando estarmos à beira da solução final.
Legislar é uma actividade que tem que ultrapassar o conceito “a quem serve a norma”? A norma serve sempre o poder, já sabemos. Mas tem que se ouvir humildemente o outro e aquele outro também. Ninguém tem o direito de domesticar o seu semelhante seja em nome de que principio for.
Amanhâ tem que ser melhor e mais colorido que o dia de ontem.
Saiam dos sonhos de S.João e vivam num planeta azul e bonito, mal frequentado às vezes, mas um sítio onde vale a pena viver. Não metam medo ao Zé -Povinho, já nem os pregadores na Igreja ameaçam o seu rebanho com as frituras infernais. Digam-lhe a verdade ou verdades mas não o tratem como se fosse uma criança estúpida e sem imaginação.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um túnel com janelas



Quem viveu no tempo do Estado Novo lembra-se da dificuldade que havia em ter estatísticas fiáveis. Os resultados de qualquer inquérito ou sondagem não eram minimamente fiáveis e muitas vezes, quase sempre, eram tão disparatados que não eram publicitados. A desconfiança natural dos portugueses, digo natural porque já é algo de atávico em nós, começou logo na fundação do estado português. O Estado nunca foi pessoa de bem. Confiscou, esbugalhou, devassou, distribuiu e ficou nem sempre com a melhor parte daquilo que não era seu. Daí sermos relapsos ao fisco e às sondagens quanto toca a coisas da carteira. Isto criou sempre uma grande distância entre governo e governados, salvo algumas e muito poucas excepções e sempre de curta duração. Pessoas como o escriba destas linhas que sempre defenderam a mais ampla liberdade de expressão têm a nítida noção que os media fomentam essa distância com parangonas permanentes com rebates plangentes pela coisa pública.
A necessidade de protagonismo, e a terem a sua primeira capa nos jornais, chega a levar o sindicato dos tabaliães a pidescamente investigar escrituras em que o primeiro ministro irterveio. Eis um novo serviço de inteligence levado ao paroxismo. Faz invetigação por conta própria e não responde perante ninguém. Não há memória de caso semelhante. Tentem ao menos fazer coisa parecida com os gestores do BPP, do BPN, do BCP e outra fauna reconhecidamente comprometida em pescas de águas turvas. Eis o ambiente de deliquescência a que se chegou, grau zero de confiança e de segurança politica vista à luz dos holofotes dos donos da imprensa falada e escrita.

Por isso rarissimamente se vê um governante no meio do povo num bate papo franco e não preparado, neste País onde parece haver uma epifania de casos mais ou menos escabrosos envolvendo pessoas ligadas à política, pondo em causa todas as estâncias do poder. Pelo menos vendem papel e têm sharing na televisão.

É assim, aqui vamos nós por um túnel curvo que nos traz sempre ao mesmo ponto, sem sermos capazes de sair, de rompermos com esse circulo ignominioso da lamechice duma forma livre e adulta, de nos valorizarmos, de não olharmos com desconfiança o poder público e desmentirmos Camões.


sexta-feira, 17 de abril de 2009

After...


Por vezes vemos publicadas ideias e discutimos como seria a Terra se uma fortíssima Deflação, (será assim tão hipotética?), atingisse o planeta de forma a levar a uma total e definitiva guerra nuclear. O tempo que se lhe seguiria mostraria um mundo fantasmagórico em que os poucos sobreviventes seriam portadores de um conhecimento que não podiam aplicar nem transmitir, pois não tinham infraestruturas, nem combustível, nem técnicas capazes. Teriam muita dificuldade em registar para a posteridade o Mundo em que tinham vivido antes da hecatombe, primeiro porque não seria essa uma das suas necessidades imediatas e por outro não teriam um suporte onde o fazer. Do nosso tempo desde os suportes magnéticos ao equipamento mais elementar nada seria usado com a finalidade para que foi criado.
Embora eu imagine que possa haver algum feedback nas crianças que depois nascessem o melhor e mais semelhante com a realidade de hoje está na imagem que acompanha este texto e que vi, fotografei e oxalá não seja premonitória.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Avril au Portugal


Avril au Portugal,
A deux c'est idéal,
Là-bas si l'on est fou,
Le ciel l'est plus que vous,
Mais sans penser à mal
Son cœur attendra t-il
Que j'aille au Portugal,
En avril.


Todos conhecemos a música de Coimbra é uma lição/De amor e tradição com a letra de Jacques Larue como suporte musical para promover o turismo em Portugal. Mais uma técnica de vendas e publicidade do que de marketing, muito menos agressiva que este e com sabor a algo de ingénuo e pueril. Em Portugal “em Abril águas mil” por isso aquilo parecia, (anos sessenta), como se dizia em alguns sítios (cafés) frequentados pela intelectualidade de esquerda que Avril au Portugal/ c’est une blague meteorologique.
Curiosamente numa Europa ainda cheia de frio, muitos dos que vivemos mais a Sul queremos à viva força que em Abril não haja aquecimento ligado, se usem roupas leves e se ensaie uma vida de Verão. Depois zangamo-nos com o tempo, com a terra onde vivemos e especialmente com a casa. Nem as árvores ainda se vestiram. Abril é sempre uma promessa de melhores dias, Maio é que é o mês das flores, o mês das giestas e crescimento.

domingo, 12 de abril de 2009

Ozendo , Páscoa 2009


A placa cuja imagem se reproduz aqui ao lado está colocada na fonte da praça do Ozendo. Antes de tudo façamos alguns esclarecimentos. O Ozendo, sobretudo aquela fonte, é o centro ortotécnico do Universo. Desafio quem quer que seja a demonstrar o contrário. Depois, há que informar que o coxo a que se refere a placa não se trata de ninguém que claudique quando anda e que ali esteja todo o seu tempo a dar de beber ao passante. O coxo, naquela terrinha no meio do Nada, perdão, no meio do Universo, é um copo de madeira.
Feitos os preliminares esclarecimentos vamos ao tema que é tangencial à interpretação literal da placa, ou melhor dizendo, descodifiquemos a mensagem subliminar que ela contem. Óbvio que se pretende com aquele aviso que ninguém suje a fonte ou leve o copo. Contudo, há neste aviso algo de muito português e que Salazar soube aproveitar numa norma habitual na forma como a minha geração e as anteriores foram educadas. Ainda por aí há uns resquícios mas julgo que em verdadeira extinção. Estamos em Abril e isso inspira-me…
É um aviso à navegação, uma carta de conduta para a vida. Passa pela vida, mas não deixes nada que te identifique, não deixes marcas, não faças ondas, esconde-te atrás da mediocridade reinante, mantém-te ignoto e de preferência ignaro. Não tentes levar nada contigo, dentro do segredo da tua particularidade, nada, porque nada que não seja comum é teu, tudo o que pensares deves partilhar e como não podes partilhar o que não é standard deixa de pensar, não aprendas, não leias, mas sobretudo não penses, ouve os chefes e os superiores que sabem muito mais que tu; mandar é muito mais difícil que obedecer. Resigna-te a ser feliz... e lerdo.
Estou a passar pela rama um assunto sério e que não se esgota na expressão ou na criação. Isto é a portuguesa não inscrição. Uma das formas de fugir a isso é a oportunidade que a blogosfera veio dar e que alguns não sabem ou não querem aproveitar duma maneira nobre, clara, luminosa e frontal.
Sinais dos tempos, muita coisa, quase tudo melhorou, e há algumas coisas, poucas, que ficam deveras a dever algo à moral e aos bons costumes.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cada dia mais pobres


Sempre que vejo impressa a sigla G20 o meu cérebro lê a palavra gozo com maiúsculas. Julgo que não se trata apenas da semelhança gráfica. Há algo de pré cognitivo nisto. Estes grandes do Mundo, sacerdotes oficiantes do grande Deus em que todos piamente acreditam, o mercado, são apenas piões nas mãos dos que de facto detêm o poder, os plutocratas que não têm rosto, nem estados de alma, nem grandeza e gozam com os vinte, com os trinta e com os restantes milhões que habitamos o planeta.
Os 20 magníficos sabem que tudo quanto fizerem é para agradar a esse Deus supremo, cruel e injusto que nos obriga agora a pagar pesado tributo pelas asneiras duns tantos aprendizes de feiticeiro que quiseram descobrir a pólvora sem fumo: não produzir riqueza mas enriquecer rapidamente e sem esforço, apenas escriturando números e usando técnicas de marketing enganando o próximo.
Infelizmente para todos nós, esta vintena até pode ter as melhores intenções, podem até reunir com o espírito todo Zen, mas não serão eles a ter a palavra final. O Grande Gozo não é sequer de 20 é de menos que isso.
Mas não é isso que me entristece hoje.
A minha terra ficou mais pobre. Um homem bom, prestável, um homem de todas as causas dos humildes, subitamente deixou-nos.
O meu amigo Manuel Cerdeira faleceu de madrugada no Hospital pouco depois de aí ter entrado pelo seu pé. Ficou a família e a cidade mais pobre. Foi cedo de mais, tinha apenas 67 anos. Na perspectiva de quem parte teve uma viagem de luxo, mas para quem fica, família e amigos, foi, está a ser extremamente doloroso. Há poucas pessoas com aquele timbre; cheio de urbanidade, pronto a servir a causa pública, gentil, educado e sempre ao serviço do seu semelhante.
É de aceitar como boa a velha ideia de não perguntar por quem os sinos dobram, pois dobram irremediavelmente sempre por nós…ou pelos nossos.
Resta-me fazer uma oração pungente e dizer: até sempre amigo Cerdeira.