segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Há sempre uma saída


Escrevo com a castidade com que uma profissional abre as pernas ao cliente habitual.

Desde que me conheço aprendi a acatar valores que terão sempre de ser respeitados: não matar, não roubar, não mentir, não fazer ao outro o que não quero me façam a mim. Sem ser nenhum santo, creio respeitar sempre, na essência, tais princípios. A estes somei outros que bem pensados vão dar àqueles.

Desde que voto sempre votei no mesmo partido, uma vez por engano votei PRD, e tenho a noção que nas últimas eleições europeias todos ganharam, menos o partido socialista. Perdeu por falta de comparência dos seus votantes às urnas.

Agora parece todos esquecerem os mais elementares valores e o que foi o nosso mundo neste último ano e meio, desde os escritórios de advogados (impolutos e generosos) aos estados-maiores dos paramnésicos partidos. Dizendo de outra forma, julgam saber que valores conjugam-se com juros, e estes só nos bancos e tem de ser nos bons. Mas há valores a respeitar, sim.

Quem pode confiar em pessoas com descaramento e falta de patriotismo para dizer que têm soluções sem as divulgar, que são discípulos dum presidente que dá caneladas nos políticos, porque ele nunca o foi (político) e não está para o ser, que nos devia representar a todos e cada vez é pouco mais que um mal colocado sinal de trânsito, que sem ser redondo, senão for de proibição de complicação é de certeza.

O caminho da democracia é estreito, pode parecer sujo, mas tem sempre uma saída, obviamente democrática.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ficção cientifica e política


Todos já conhecemos e lidamos com cartões de memória que equipam as cameras (fotográficas e de vídeo), os telemóveis e as pen-drives. Hoje já se compra por pouco dinheiro um cartão de 32GB. O princípio parece ser simples e prende-se com as conhecidas experiências que fazíamos quando éramos miúdos esfregando uma caneta de plástico com um pano de lã para com ela atrair pequenos pedaços de papel. Não, não vou dissertar sobre experiências do grego electron
Refiro isto apenas para dizer que a partir de coisas simples, parece não haver limites para as soluções técnicas de capacidades de armazenamento de informação.
Por isso nem sequer é preciso muita imaginação para prevermos que um dia aparece no mercado um dispositivo, em tudo semelhante ao cartão já conhecido, que tocando nele é capaz de armazenar tudo o que sabemos consciente e inconscientemente. E se outrem lhe tocar na outra face, tudo vir, tudo cheirar, tudo ouvir, tudo saborear, etc, etc , etc, se tiver acesso a tudo o que experienciámos? Se for quebrado de vez o sacrossanto direito à interioridade?. Primeiro será só para os perigosos qualquer coisa, depois…
No momento que escrevo estejamos todos sossegadinhos que ainda não chegámos a esta afinação.
Contudo, há quem queira tudo saber e tudo controlar qual Big Brother.
Mas o Big Brother ou a Big Sister envolvendo chips, cameras e satélites é coisa cara e deve vir a haver com toda a certeza soluções mais expeditas e então sim, não será preciso suspender a democracia por seis meses, nem rasgar nada, nem ter o incómodo de divulgar programas políticos.
Em tese e no limite suspender-se-á a humanidade não como espécie mas como conjunto de seres humanos.
Antecipemo-nos e urgentemente crie-se um movimento de opinião que reabilite a política e os políticos. Tem que se criar uma legião de boa vontade e conseguir separar o trigo do joio. A começar pela nossa rua.
A política é o mais nobre dos ofícios e deve ser só exercida pelos melhores. Não pactuemos com os que sabemos antecipadamente demagogos (contrário de pedagogos) pouco sérios, ressabiados, empresários desonestos, tenham ou não arquivo em esconsas casas de banho. Eles juntam-se em agremiações. O mais grave é que nós sabemos distingui-los e às vezes…acontece descarregarmos as nossas frustrações em nós próprios. Manipulam-nos, nós sabemos e vingamo-nos em nós mesmos.
Pobre e masoquista classe média.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mensagens subliminares


Há uns anos, dois amigos meus mas distantes de mim politicamente, integravam uma lista a determinadas eleições. No programa eleitoral que elaboraram tinham os pés tão bem assentes na terra que só lhes faltava prometerem uma fábrica de foguetões e os Jardins Suspensos da Babilónia. Quando questionados sobre a irrealidade das suas promessas e sabendo que por muito amigos que fossem, o meu voto não levavam, lá se descoseram e pacificamente aceitaram que estavam a usar de pura demagogia , queriam o poder e depois logo se via. Tentaram convencer o povo com palavras mansas, colhidinhas nos manuais da política e prometeram o que sabiam não poder cumprir. Não tinham nenhum projecto sério e contudo queriam acertar. Convenhamos que era uma empreitada difícil, mesmo impossível.


Contava-se há uns anos que um rapaz regressado a casa depois de ver o filme Lawrence d’Arábia ao descalçar-se caiu-lhe dos sapatos areia do deserto. Uma maneira divertida de alertar para as imagens que manipulam o subconsciente.


Há a demagogia, a promessa vã mas que a inteligência, ou melhor a consciência detecta, e a mensagem subliminar, a que passa por baixo do filtro do nosso consciente e contudo é capaz de produzir efeito. Desde a imagem publicitária introduzida num filme, sem nos dar tempo a perceber mas que os olhos viram, a algo mais elaborado produzido em laboratórios de psicologia, capaz de condicionar comportamentos, tudo pode acontecer. Eis-nos em plena época de pré-campanha eleitoral que alguns confundem com campanha militar. Discípulos guerreiros sentem já o cheiro a pólvora e acham que na guerra e no amor valem todos os golpes por mais baixos que sejam. Estejamos atentos aos aprendizes de feiticeiro…

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Seios, ponto G e incesto




A minha terra é feminina. Desde logo o nome é do género feminino, Guarda. Depois é a única que tem o ponto G e dois seios, com mamilos, adornados com uma jóia (um banco).
Gerou, amamentou e criou muitos que por cá andaram e andamos que a respeitamos como ente físico e psíquico. Sei o que digo ao falar de ente psíquico, pois entre outras coisas que não explico, tem camadas de passado e memórias.
Moderna e liberal aceita todo o tipo de relações. Todo, todo também não é verdade. Há as que repudia veementemente como o incesto. Mesmo que pressupostamente a convite das mães a filhos pródigos. Pródigos de demagogia, bem falantes e vendedores de banha da cobra, com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
Um filho pródigo de relações cristalinas, ou melhor de cristal, pois se o dinheiro não aparece, as relações quebram-se ao primeiro toque de discórdia.
O moderno filho pródigo depressa delapida tudo: património e beleza. Venderá a tostões para ganhar milhões.
Mas como sempre, o excepcional filho ou o pródigo só tem o poder que se lhe dá ou que deixamos que conquiste. Está sempre na nossa mão.
Valha-nos S.Expedito

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Dia dos prodígios


Ontem foi um dia de prodígios. A minha mulher acompanhou-me numa voltinha. Descemos as escadas da Montanha a ver as obras na rua D. Diniz. Já que ali estávamos descaímos à Travessa do Povo. No alinhamento da muralha, ostentando orgulhosa e em granito a inscrição 1920, lá estava a velha casa onde nasci. Fui explicando, apontando para as janelas as divisões da casa, e eis senão quando entrei no terreiro que levava à garagem do padre Isidro. Esse terreiro era o mundo além das casas da família e aí brinquei e brinquei, joguei e joguei. Possivelmente o lugar (ou o tempo?) onde fui mais livre e mais me diverti. Brincava-se ali a tudo, desde os carrinhos, aos triciclos, ao arco com e sem gancheta aos intermináveis jogos de futebol. Muitos ali jogaram, mas os permanentes eram o Li e eu. Era um campo de dimensões apreciáveis e ontem aquilo era mesmo um pátio pequeno com quatro abarracadas garagens. Há muito ali não entrava, pois até a casa do Li, ou o que resta dela, me pareceu mais pequena. Parecia o dia dos prodígios, o muro prolongamento da muralha e altíssimo, ontem pouco mais alto era que eu.
Sei que cresci, engordei e envelheci, mas que as coisas tivessem encolhido…
Não há dúvida, o homem é a medida de todas as coisas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Devaneio


Queria levar-te

Por caminhos de cores

Mostrar-te em toda a parte

Trilhos de flores;

Onde o céu

Resplandece,

Alegria

Alvorece,

Primavera

A florir,

Teu rosto

A sorrir.



terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estandartes, bandeiras, pendões, etc...


Normalmente o símbolo mais respeitado de qualquer país é a sua bandeira. Por esse mundo fora, volta meia volta aparecem relatos de comportamentos esdrúxulos por práticas menos respeitosas com o pavilhão duma qualquer pátria. Entre nós, há quase cem anos que todos reconhecemos como nossa a bandeira verde e vermelha com o escudo. Nenhum partido, grupo ou sector a reclama como sua. É de todos nós. Há agora uns brincalhões que se divertem hasteando o velho estandarte de D Manuel II. Note-se que hoje é usado abusivamente como emblema por determinada cor politica. Lamentavelmente já outro senhor se divertiu usando e abastardando uma bandeira de outrora como sinal duma organização paramilitar. Refiro-me ao pendão de D. João II ter sido usado como bandeira da Mocidade Portuguesa. As forças ganhadoras em 1910 tinham razões que hoje não valorizamos. Por mim podia ter ficado a velha bandeira azul e branca, que desde sempre foram as cores de Portugal, mas sem a coroa. Não sacralizo coisa nenhuma, mas quem faz destas partidas não pode ser tratado como brincalhão que não é. Não cometeu nenhum crime de lesa pátria, mas é um criminosozito, um ladrãozeco a ser punido sumarissimamente num processo que desse pelo menos três dias de cadeia sem visitas. Da primeira vez… Depois podia ser em progressão geométrica.
Claro que tudo isto é uma questão de sentido de humor.

domingo, 16 de agosto de 2009

Por que somos assim


Rejeitamos tudo que nos faz pensar ou aborrece. Sobranceiros, enjeitamos os nossos eternos credores, aqueles que saíram do país e regressam de férias, bem como os avisos da gripe A. Aos primeiros atribuímos o excesso de calor, as moscas, as filas nos serviços, o mau uso do português, do esquecido francês e o atraso do país; no Outono, em plena pandemia, culparemos o governo.

O nosso tão abstruso e querido sebastianismo potencia o surgimento de derivas absolutas (Sidónio, Salazar). Tu, meu sacana, que te sentes protegido se dependeres de alguém, por pior que te trate, és o carrasco da minha liberdade que te perturba e te deixa órfão.

Só é livre quem estando só está bem acompanhado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Regionalização, outra vez??!!


Conheço todos os argumentos a favor da regionalização. Sendo a maioria dos meus amigos a ela favoráveis, eu não sou.
Depois do povo já se ter pronunciado, ao que percebo, terão que se fazer tantos referendos quantos os necessários para obter democraticamente o desiderato duma inteligência que não gosta de ser contrariada e ao que parece tem o desígnio divino de nos guiar a todos. Mais ou menos o que está agora a acontecer com a Irlanda em relação ao Tratado de Lisboa.
Só de pensar que em vez dum ou dois duques com as suas inefáveis cortes e com toda a pirâmide de serventuários, teríamos que pagar mais cinco, fico com comichões.
Se 80% da população se concentra numa faixa do litoral entre Viana do Castelo e Setúbal onde é que o resto do País arranja massa crítica para se constituir em regiões? Contudo, e muito a sério, sou a favor de alterações à actual divisão administrativa, mas a começar pelas freguesias; acabem-se com umas e criem-se outras, bem como os concelhos e distritos. Alterem-se as competências a estes últimos, atribuam-se-lhes mais verbas e poder de decisão e acabem-se de vez com as marcelistas, (tecnocráticas??), e antidemocráticas CCDRs. Talvez passar de 18 distritos para um pouco menos, mas como Autarquia Local e Procuradoria do Governo e não mera circunscrição administrativa. Criar governos regionais e as inconvenientes assembleias eleitas com as mordomias inerentes, não concordo. Sou visceralmente contra a força concentracionária de Lisboa, mas regionalizar seria pior a emenda que o soneto. Querem acabar com os distritos mas ninguém disse que nestes cento e setenta e quatro anos prestaram um mau serviço. Lembra-me a maneira como liquidaram os Liceus. Acabam porque sim, decidiu-se assim, sem mais. Foi mais democrático…
O cúmulo da regionalização em Portugal deu-se com D. Afonso V. No ano em que o filho, o Príncipe Perfeito, foi coroado D João II ditou para a História:"meu pai deixou-me rei das estradas de Portugal”. O resultado é conhecido, arranjou forma de acabar com a regionalização existente e simultaneamente proceder à nacionalização dos bens dos ducados, chamando-os à coroa da maneira mais eficaz. Decapitou-os e não apenas em sentido figurado. Assim criou, para o bem e para o mal, condições objectivas para que os navios portugueses chegassem à Índia e ao Brasil que ainda hoje é o nosso passado fabuloso e pasme-se, o nosso futuro tão mítico quanto real. A Europa maioritariamente branca, alter-ego dos States, mais ou menos católica, multicultural e complacente, como a conhecemos, tem os dias contados.
Padre António Vieira e Fernando Pessoa foram clarividentes só não empregaram as palavras globalização, europeização do mundo e muitas categorias de pretéritos.
Por aqui fiquemos, onde nos levaria este raciocínio!!!...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Na dia da morte do Dr. Bonito Perfeito

Já conhecia o respeito que o nome inspirava mas foi em 1961, ontem portanto, que conheci o Dr. Abílio Alves Bonito Perfeito, na altura Reitor do Liceu Nacional da Guarda onde eu entrava caloiro. Na idade em que achamos que tudo está errado, queremos afirmar a nossa personalidade medindo/provocando professores, tive a sabedoria suficiente para reconhecer o invulgar carácter, a inteligência e o saber do pedagogo, daquele homem com um andar determinado e tronco um tanto oscilante. Era um andar singular, na sua particularidade diria que tinha algo de fidalgo.

Das pequenas malfeitorias que fui fazendo, quando chamado à reitoria, guardo a atitude pedagógica e o profundo respeito que sempre mostrou.

Depois, as vicissitudes da vida tornaram-no meu cliente. Mantivemos sempre uma relação cordial e amistosa, ele sempre o mestre. Um detalhe curioso, anos depois e já que nunca foi meu professor directo, estranhamente, ou talvez não, foi capaz de identificar de imediato a paternidade de coisa por mim escrita, embora apresentada por outro.

Hoje teve o seu encantamento. Passou para o outro lado. Um verdadeiro homem de saber, um cientista de ciência certa teve agora contacto com o conhecimento total. Já viúvo da Srª. Dr.ª Alice Quintela era pai dum meu condiscípulo de turma, o Eduardo José, que nunca mais vi e a quem envio um fraternal abraço.

Usando a maneira como se expressava, ou talvez a sua metalinguagem, um homem que soube conjugar o verbo servir, partiu.

Mais um pouco de todos nós que se perde. Quis a vida que nunca partilhássemos o mesmo ideário político, mas isso não me impede que diga alto e bom som: honra e glória ao invulgar mestre. Curvemo-nos diante da sua memória e prestemos-lhe a homenagem mais que merecida.

Que a sua alma descanse em paz


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Arquivo Distrital da Guarda


Desde quinta-feira que ando a tentar esquecer a primeira página do jornal “A Guarda”. Mas o impertinente Grilo Falante não me dá tréguas e obriga-me a trazer aqui um assunto. Aquele jornal publicava em destaque na primeira página a vermelho e fundo azul: Alçado Norte do Arquivo Distrital da Guarda precisa de obras e mais abaixo a tinta preta mais pequena e fundo amarelo O Arquivo Distrital da Guarda sobressai entre os congéneres pelo excelente acervo documental incorporado. Não é notícia singular que um edifício do Estado precise de obras mas o que é excessivamente raro é um utente dum serviço elogiá-lo de forma clara. Por isso me congratulo e por isso fico danado. Nem uma palavra sobre quem foi responsável por tamanha e louvável façanha.
Conheci, demasiado bem, aquela construção quando ali esteve aquartelado o RI12. Voltei a ver aqueles claustros muitos anos depois, quando decidi fazer por conta própria determinada investigação. O meu espanto foi total. Aquele espaço em nada se comparava ao velho convento de S.Francisco onde prestara serviço militar. Quando ali regressei encontrei um local bonito e acolhedor, frequentado por pessoas simpáticas e prestáveis liderados por uma pessoa inteligente, culta e empenhada. Por isso aqui estou. É uma injustiça não dizer o nome do responsável.
Não é aqui que se remedeia o erro e a injustiça. Fica exarado o meu protesto. Mas o que quero mesmo é que fique publicamente registado o meu agradecimento e reconhecimento, enquanto cidadão da Guarda, à Sr.ª Dr.ª Cecília Falcão Dias. A cidade e o distrito estão em dívida. Após anos de incompreensões e de tantos e meritórios trabalhos de reconstrução e manutenção daquela casa, de recolha, classificação e arquivo de inúmeros documentos, deixou a Guarda, farta de aparar golpes sujos do vaivém politiqueiro. Para não variar, a nossa terra, pelos seus dirigentes e seus arautos, agradeceu à sua maneira, ignorando.