sábado, 31 de outubro de 2009

Meia-idade, reciclagem e política


Quando o bezerro de ouro espirra, ou tem qualquer actividade além da vulgar e sempre desejada engorda, os sacerdotes de imediato reestruturam, deslocalizam ou fecham empresas cujo lucro não seja substancial.
Nessas alturas vemos pessoas com cerca de 40 anos desesperadas porque têm 20 anos de funções específicas, não têm idade para a reforma e ninguém os quer, porque já estão na meia-idade. É assim, espreme-se bem (os primeiros anos mais produtivos) e deita-se fora. Quase nunca há reciclagem. Sei das formações várias, das novas oportunidades e de outras piedosas intenções. Mas produção de riqueza, emprego, e trabalho digno, aquilo que é bom acabou-se.
Porém, no cimo da pirâmide assistimos a fenómenos de reciclagem fantástica. Chega-se ao governo, (40 e poucos 50 anos) e algum tempo depois perdem-se eleições ou fazem-se asneiras; cai o governo, demite-se ou é-se demitido. Imediatamente após, tenha-se ou não background para o efeito, é-se promovido a administrador, inclusive da banca. Tem que se reconhecer essa promiscuidade entre o mundo da política e o mundo empresarial. E impávidos, assistimos a essa enorme capacidade de regeneração dos elementos dos partidos da área do poder. Num processo idêntico ao do bezerro, (ninguém imagina possível que aqueles a quem confiamos o nosso destino e o nosso dinheiro), apareçam surpreendentemente metidos em jurídicas alhadas de Portugueses Negócios, Submarinos e Sucatas de que vemos fumo, mas jamais fogo, perdão sentenciados à cadeia e confisco de todos os bens, pois felizmente o fogo e todas as outras formas de execução já não existem entre nós.
Julgados e condenados nos media, (há nisto verdadeira desumanidade), demonstram nunca terem aprendido duas das primeira regras da política: que à mulher de César não lhe basta ser séria, tem que parecê-lo e que não há almoços grátis.
Infelizmente isto já é um problema sistémico e um verdadeiro paradoxo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lusitânia


Nunca é de mais realçar a importância da liberdade de expressão, por ser algo que não tem preço e do efeito que tem no desenvolvimento integral da sociedade. Todos temos o direito de dizer o que pensamos. Exercê-lo é um acto de cidadania.

Além dos direitos constitucionais, há o soarista direito à indignação e o recente e marcelista direito à ponderação. Reivindico agora também o direito ao sorriso, sempre é menos deprimente e mais salutar.

Ao ler o blog “Sol da Guarda” revi (já tinha visto aquilo algures) a imagem dum panal que me recordou a leitura dum texto que li há algum tempo e que me fez rir, a carta para a soberania nacional do povo lusitano em (http://aceltrebopala.home.sapo.pt/carta.html). Hoje, ao procurá-lo, deparei com laracha semelhante em O Partido da Liberdade do Povo Lusitano em (http://plpl.no.sapo.pt/) e sorri. Porém se a carta tem origem ao que parece em Vila Velha do Ródão, já a fundação do novel partido, tem mais a ver connosco, vem ali de Folgosinho e sedeou-se na Guarda.

Brincadeiras da juventude imaginativa, pensei. Mas juventude, interesse pela história, regresso às origens e pureza da raça eis uma mistura que leva a outro lado. Então deixei de sorrir.

Republicano confesso e militante, conceptualmente posso entender os monárquicos, não como saudosistas de determinada época, mas como defensores dum poder que vêem mais estável porque se aproxima do poder tribal, a que eles chamam natural. Existe o Homem do Rei, dificilmente o Homem da República enquanto conceito identitário. Há republicanos, nas suas mais variadas cambiantes e amantes do seu país. Homem do Presidente não é identitário e tem um significado pouco edificante.

Só por graça (será?) pode alguém reivindicar como região (duas línguas, duas culturas, diferenciação geográfica profunda) a Lusitânia. Se houver alguma razão histórica, cultural, étnica ou o que por muito remoto que seja legitime tal, então nós, habitantes da Guarda, vamos até ao séc. VI e reclamamos a refundação do velho reino suevo-alano da Vetónia (habitado por enigmáticos braquicéfalos mediterrânicos) com capital na velha Ward.

Vamos a isso, retrocedamos e de forma quanto mais abstrusa melhor. Isso sim, é ser cool e original

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um dia acaba


Dizer-se que tudo o que tem princípio tem fim, é recitar um axioma. Portugal, o país onde nasci, gosto, respeito e vivo, um dia acaba. É fatal, escusamos estar com ondas. Não sei, nem sei se alguém saberá, definir claramente as fronteiras de soberania nacional desde as político-geográficas às económicas e mesmo as de competência militar. Quanto ao chamado povo português, para se ser exacto, definamos o globo como seu habitat.
Portugal será já neste momento mais uma entidade abstracta, um ser mais psíquico que material que se vai desvanecendo, se vai erodindo não só social como moralmente. Dia sim, dia sim, ouço expressões como: devíamos fazer parte de Espanha, que venham os alemães tomar conta disto e outras em vernáculo. Se é uma fatalidade morrer este e outros países não é inevitável que seja agora, nem deixar que vá para uma unidade de cuidados paliativos ou mesmo continuados. É bom que tenhamos a noção que isso só se previne se e quando o verbo servir deixar de ser conjugado pronominalmente e na primeira pessoa..
Pretende-se que as novas equipas não repitam erros velhos. Podem ascender aos altares da coisa pública verdadeiras viúvas de muitos maridos, o importante é que aí se portem como virgens puras e assim permaneçam.
Assim seja…

Analfabetismo

Analfabeto é aquele que não sabe escolher o essencial entre a informação que lhe é proposta. Por isso há quem tire cursos superiores de confusão. Estuda-se cientificamente a forma de baralhar legalmente o conhecimento que chega ao consumidor, controlar o mercado, esse mítico bezerro dourado. Mas só é livre quem sabe. Escolhe-se tão bem e mais livremente quanto melhor é a sapiência que se dispõe. Contra isso nascem as agências de comunicação com jornalistas e marketeiros, autores de práticas que duma ou doutra forma mascaram a verdade e retiram noções que seriam definitivas para a escolha. Dispensam profusa informação iludindo o público sem dizerem o essencial., ou se o fazem, é em linguagem tão erudita ou num tal jargão que ninguém entende.

Não admira que haja óptimos profissionais que vestidos com as vestes do oficial, (como deles se desconfia logo!!!), não conseguirem fazer passar a sua mensagem. Assisti hoje (via televisão obviamente), a duas corporações terem opiniões opostas sobre um assunto que devia em principio ser pacífico pelo menos para uma delas. Refiro-me à vacinação contra a gripe A. As eminências do Ministério da Saúde a afirmarem que é aconselhável e seguro as pessoas vacinarem-se e ser necessário ter para o efeito um critério de precedências. Dum lado, médicos e enfermeiros a recusarem aquela prática profiláctica, doutro, os taxistas, (esses grandes sábios em todas as matérias), a falarem da necessidade da vacinação e a reclamarem para si prioridade máxima.

Eis um exemplo acabado do que é ser analfabeto. No caso em apreço tanto são uns como outros. É assim que somos e com grande culpa dos media. Os jornalistas cada vez mais mostram a sua inutilidade. São apenas his master voice. Dantes, dizia-se que a rádio dava a notícia, a televisão mostrava-a e a imprensa explicava-a. Agora a preocupação é vendê-la, vestida com a roupa da respectiva estação. O que era serviço é agora negócio.

Talvez, talvez a verdade ande mais ou menos à solta e à vista na Net.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aromas Outonais

Que caí(a)m na publicidade, não sei se gratuita, à edição do novo título dum Nobel aceita-se, que se faça disso uma questão nacional não. Não vale a pena desvalorizar o residente de Lanzarote, ele já está na História, goste-se ou não da sua obra e do seu mau feitio. Acho mais curioso quatro humoristas levarem em bicha pirilau, um por um, os grandes deste país a fazerem o papel de gente boa onda, sentido de humor, poder de encaixe e explicações razoáveis para o inexplicável. Sobretudo sabendo que outros, os gregos, foram às urnas no mesmo dia que nós e já têm governo em plenas funções há quinze dias. Entre nós, só hoje, o primeiro-ministro indigitado concluiu a lista do seu elenco. Que a dívida suba, que a natalidade baixe, que o desemprego cresça ou que a produção diminua isso são questões de somenos importância. Porque temos de reconhecer que todos achamos mais importantes os gatos e o laureado escriba que gerir a crise, ou tentar resolver os problemas deste jardim à beira mar plantado.
Talvez seja este o caminho para todos não renunciarmos, mas perdermos a nacionalidade. Seremos um protectorado, uma província ibérica ou seremos capazes de nos arrogarmos como um povo? Um povo a caminho dum futuro melhor, da fuga à mediocridade, de encontro à modernidade, talvez da construção dum tão cantado quinto império, sei lá.
Definitivamente, o tempo da política, o tempo da justiça, todos esses tempos não é o meu tempo. A vida é curta, dura pouco, dura um eterno presente, mas só enquanto dura…

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Guarda from the sky


Pude adquirir e folhear demoradamente o livro Guarda vista do céu com fotografias de Filipe Jorge e textos (que ainda não li pois tenho 2666 Bolañas razões para o adiamento) de duas pessoas de qualidade e que conheço: do Arq. António Saraiva e da Dr.ª Antonieta Garcia. A edição é magnífica e ao que julgo saber poucas cidades têm coisa semelhante. Não acredito que quem quer que seja que tenha a mínima afinidade com esta xanta terrinha não fique tocado com a técnica e beleza das fotos, por mais photoshop que se tire ou ponha. É uma obra bela e meritória. Mas, há nestas coisas sempre uma disjuntiva, não é a minha terra que ali está retratada. A minha terra é um monte e ali parece uma planície, dada a compensação da aplicação dada à imagem captada.

A minha terra é também um ente psíquico que reconstruo todos os dias. A imagem que dela tenho é duma cidade construída no cimo dum monte e atravessada aí a 2/3 deste, no sentido Sul/Norte por uma larga ruga horizontal (Av. Rainha D Amélia, R Batalha Reis, R Alves Roçadas, Av. Bombeiros Voluntários), ficando o lado oriental, mais recente e melhor com a maior parte do comércio e serviços e habitada por uma população incaracterística, que é onde moro. No terço restante fica o centro histórico com algum comércio, poucos serviços e habitada por uma população mais característica e castiça, onde nasci. Não vou discutir a bondade da racionalização do trânsito e a decisão de reservar como zonas pedonais ruas do casco antigo. O problema é que estas duas partes não jogam uma com a outra como dantes. Estão realmente separadas, e isto não é só na minha cabeça.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A propósito de Utopias


Tenho a certeza que o primeiro-ministro José Sócrates não lê o que escrevo. Nem ele nem a fauna que à sua volta gravita e dele (ou de nós?) se alimenta. Nunca me pus a jeito para escrever para a história e não é provável que qualquer agência de segurança se interesse pelo que penso. Contudo, feitas as devidas ressalvas, deixo aqui uma solução, tipo Ovo de Colombo, para alguns dos problemas com que se debatem Portugal, os States e outros.

Conhece-se a inabilidade do mais rico e melhor equipado exército do mundo em ganhar guerras. Desde a 2ª Guerra Mundial que não ganham nem uma guerrazita sequer; a do Panamá de Noriega não conta porque alguém borregou, e ficou tudo na mesma. Têm capitulado, retirado, abandonado ou fugido donde quer que se tenham metido. Até do Corno de África, uma das zonas mais miseráveis do globo, fugiram e não restauraram esperança nenhuma. Vêm-se agora a perder dia sim dia sim a guerra no Afeganistão, um verdadeiro inferno para onde os neocons ,(também pode ter leitura francesa), mandaram gente sem razões, causa, motivo nem jeito.

Sócrates, de maneira pública ou velada (diplomática), faz a seguinte proposta a Obama: se vocês, américas, me derem metade do que gastam na guerra do Afeganistão, restauro o serviço militar obrigatório e Portugal envia tropa com rusticidade suficiente e sem necessidade de Coca Cola, frigorífico e banho diário, (de seis em seis meses enviamos duas brigadas de infantaria mecanizada operacionais em comissão de dois anos), o terreno fica ocupado com tropas ocidentais cristãs e da Nato na mesma, garante-se consumo à indústria pesada norte americana, o general Herbert McChrystal faz uma retirada estratégica, (despede-se à francesa), and you Mr President (ainda não é imperador) justifica o Nobel da Paz. Acaba-se com o desemprego em Portugal, fica-se com umas massas, e melhor que tudo, ao fim de algum tempo ganha-se a concórdia entre povos, pois entre outras tácticas de pacificação a miscigenação ficará garantida. Não há Paz como a dos sonhos ou o que os antecede, um whisky antes e um cigarro depois.…

Pela ideia não cobro nada e podem-na vestir com o fato que mais jeito der.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sobreviventes


Sobrevivemos a três pelejas, com episódios umas vezes de pequena guerrilha, outras de combate clássico e de acordo com as normas consuetudinariamente aceites. Menciona-se um morto, mais vitima da loucura dum homem do que do confronto ideológico. É de lamentar, mas não conta para o cômputo dos resultados. Estamos por isso todos de parabéns, a festa democrática aconteceu.
Entendo que a alternância (de equipas, não necessariamente de partidos) é por si só uma necessidade, pois um problema hoje tem uma solução e passado algum tempo tem outra ou outras. Há a tendência, bem humana, das mesmas pessoas aplicarem igual solução ao mesmo problema noutro tempo, e isso quase sempre é uma prática errada, pois com o tempo tudo muda, desde as condições às pessoas, tudo se altera e por vezes quem está por dentro não se apercebe: as árvores escondem a floresta. Mas como não há regra sem excepção, a nível pessoal, no que respeita à politica local o resultado soube-me a nozes com mel. Foi ouro sobre azul.Justificar completamente Definitivamente a Guarda é uma senhora e não é quem quer que a Guarda quer. De resto detesta a má-criação, as atitudes patéticas e o terrorismo.
Por uma estranhíssima associação de ideias veio-me à memória uma frase: as aves de arribação e os cucos partem no Outono para África.
O Nobel a Obama foi dado em nome da Utopia. Tanto o islão como o cristianismo têm a mesma visão utópica do paraíso e em seu nome se cometeram e cometem as maiores atrocidades. Por isso todas as utopias me metem medo, menos a do Chanceler de Henrique VIII, Thomas More, e mesmo desta tenho dúvidas, por certo diferentes das de Cavaco Silva. Todas as outras encabeçadas por uma plêiade de estrelas como Gengis Khan, Jean Calvino, Adolf Hitler, José Estaline, Mao Tsé Tung, Pol Poth e outras santas criaturas com as suas utopias são aterrorizantes. As utopias são capazes de levar o ser humano a praticar horrores sem disso se dar conta.
Resta-nos pedir, com muita fé, que o Senhor não permita que o messiânico Barack Obama entre (por nenhuma das portas) para a galeria dos grandes utópicos.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Crepúsculo


A ficção que se segue poder-se-ia ter passado em Portugal e começado há trinta e quatro anos. Foram tempos de mudança aqueles, tempos que todos queriam fossem de verdade. Mas se é certo que quando todos choram alguém vende lenços, também é verdade que quando todos entram em processos de catarse, de higiene e limpeza há quem esconda o lixo debaixo do tapete comprometendo o futuro.

Era uma vez um cavalheiro, verdadeiro plutocrata e naturalmente conservador, que geria uma empresa de combustíveis. Tinha como cliente preferencial uma grande empresa de transportes. O seu negócio era a venda de produtos derivados do petróleo e com o choque petrolífero o dinheiro jorrava. Em pleno Prec decide emigrar e entregar o negócio a familiares em quem confiava, entre eles um promissor jovem. O tempo passou, as paixões políticas arrefeceram, a turbulência cessou, houve uma involução e veio o refluxo dos velhos senhores que por medo ou má consciência tinham partido.

Nem tudo foram rosas para os que regressaram dos Brasis. O homem já tinha ouvido qualquer coisa, mas pasmou, quando viu a sua firma de pantanas e o parente com outra, próspera, fornecendo os seus ex-clientes incluindo o seu cliente âncora. Compreendeu de que matéria era feita a sua gente. Não degeneravam, gostavam de dinheiro como ele. Desesperado pede contas.

O familiar, autor de tão ético comportamento, foge, dribla responsabilidades e mete-se nos meandros da política, escudando-se sob a máscara de figura pública. Era vê-lo em reuniões sociais a insinuar-se com o belo sexo. Mas não era esse, (o sexo), o seu verdadeiro objectivo, mas as suas massas. Viúvas ou divorciadas, tão mais lindas e apetecíveis quanto mais balzaquianas e ricas.

Honestidade e lealdade são conceitos abstractos e não entram na folha de caixa nem no Plano Oficial de Contas. Abusando da confiança de muitas e muitos prosperou, vendendo “formaturas” bem pagas enriqueceu, mas ludibriando e aproveitando a fraqueza do próximo comprometeu irremediavelmente o futuro.

Anos volvidos, rondando a insolvência, pois a crise chega a todos, com compromissos em falta e salários em atraso, o vendedor de banha da cobra, demagogo, cara de… português suave encalha, ninguém o acredita e vê a sua vida devassada. Prepotente e irascível, injusto e autocrata como garantem os que com ele actuavam, pôde, como todos os mentirosos, enganar alguns todo o tempo, e enganar todos algum tempo, não pôde enganar todos todo o tempo. Debateu-se, e no final perdeu ao deparar-se de trombas com a verdade na mão dos outros

A hora da verdade tardou mas chegou e impossibilitou mais uma meteórica fuga pela política; a barreira da verdade foi demasiado alta, intransponível.

Eis um conto sem bons, só com maus, já que só refere perversidade.

E se este texto não fosse só ficção e se qualquer semelhança com a realidade não fosse pura coincidência…

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Recordar, Sonhar e Viver


Ginastico as meninges,

Dobro dobras de recordações

(Sei que não atinges

Este evocar recordações).

Nos escaninhos da memória

Procuro o começo, a causa,

Fazer a história

Das minhas vivas ilusões.