quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ciganices


Já aqui não vinha há uns tempos porque outros valores mais altos se levantaram. Nem hoje viria, não fosse um jovem turco com pretensões a salvador da humanidade perdão, de Portugal, hoje mesmo vir dizer que o problema dos ciganos em França não era um problema de racismo. Pois eu digo que é. É sim senhor. São dois países monoculturais, a França e Portugal e sofrem de ciganofobia, ao contrário de nuestros hermanos. Em Espanha existe uma comunidade de ciganos perfeitamente integrada e refira-se como exemplo Jerez de La Frontera em Cádiz, comunidade autónoma da Andaluzia, cidade com uma população acima das 200 000 almas sendo a maioria de etnia cigana. O presidente do ayuntamiento é gitano.
Estas pessoas oriundas da Índia e trazidas pelos árabes como escravas e a quem serviram por mais de quatro séculos chegaram à Europa por volta do séc. XV e até agora nunca deixaram de ser perseguidas. Os ciganos eram e são perseguidos porque diferentes. Foram acossados por todos os poderes instituídos não tendo sido a Inquisição e o Nazismo as únicas escolas de virtudes.
Em Portugal não constituem uma comunidade coesa. Os mais ricos não conhecem nem querem conhecer os mais pobres. Calcula-se que haja em Portugal 50 000 ciganos recebendo o Rendimento Social de Inserção cerca de 35 000. Ora aí está. Acabe-se com Rendimento Mínimo dos ciganos e resolve-se o problema. Demagogia digna do PP. Os ciganos não estudam. Pois não, para quê, se ninguém lhes dá emprego? Conheço uma senhora licenciada em engenharia pela Universidade de Coimbra, inscrita na Ordem dos Engenheiros e com estágio na EDP onde não ficou colocada, apesar das suas óptimas performances profissionais, por ser casada com um cigano.
Sempre ouvi dizer: dou-me muito bem com os ciganos, eles lá e eu por cá, não quero cá misturas.
Hipocrisia, desumanidade, falsidade que nem a intervenção do cherne de Bruxelas alivia.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alhos e Bugalhos


Inscrevi-me e permaneço sócio do Sindicado dos Bancários desde o dia em que fui trabalhar para a banca, sabendo de ciência certa que um sindicato é um agrupamento de uma classe profissional para a defesa dos seus interesses económicos e sociais. Jamais me passou pela cabeça que fosse o sindicato a determinar que tipo e em que termos o negócio bancário seria feito. Regalias sociais, garantia das condições laborais, valores pecuniários, enfim tudo o que se chama actividade sindical foi e é amplamente discutido. Por isso, é-me cada vez mais difícil entender sindicatos de juízes ou de policias que pretendem intervir na forma como a lei deve ser feita e aplicada, como se fossem um órgão de soberania. Pergunto-me porque é que não há-de haver o sindicato dos militares de terra, ou do ar, ou do mar? O facto de andarem armados não interessa, é apenas um pormenor, e neste caso um detalhe que a ser usado é um excelente argumento. Crie-se o sindicato dos deputados à AR e o dos membros do governo. Isto é caricato, e se não fosse verdade far-me-ia rir.

Vivemos num Mundo Cão. Acabo de ver uma já velha e pungente reportagem de Cândida Pinto, feita em Moçambique, sobre os órfãos da Sida e das deploráveis condições em que vivem. Com água a quilómetros, carenciados de tudo, um deles, quando interrogado sobre o que mais lhe fazia falta, respondeu com a expressão e a candura que só a verdade tem: nada, temos tudo o que é preciso. Aqui fica o link de quem vem fazendo alguma coisa por aquela pobre gente http://eueosmeusirmaos.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Credibilidade


No decorrer da minha vida profissional fui obrigado a atender as mais diversas pessoas, ouvir as explicações que a maioria das vezes além de desnecessárias, eram descabidas, descabeladas, inverosímeis e que em conjunto com outros sinais eram mais que suficientes para avaliar o carácter de quem tínhamos pela frente. É legítimo afirmar que pelo canto do olho decifrávamos os sinais que imprimiam carácter à maioria dos desconhecidos. Quantas vezes me enganaram? Bastantes, mas não tantas que invalidem o que disse. Nas relações interpessoais as variáveis são em tal quantidade, e a capacidade de camuflagem natural ou aprendida é tamanha, que nem o melhor bancário, psicólogo, psiquiatra, padre, juiz ou bruxo é imune ao engano.
Contudo, sempre me julguei um bom julgador de caracteres. Mas hoje, que tomo conhecimento duma decisão judicial que me deixa surpreendido, e porque não quero acreditar que tudo isto seja apenas um acto redentor da justiça portuguesa, penitenciando-se e apresentando-se de cara lavada, entro com dificuldade na fila dos que procuram tratar das mãos que queimaram no fogo da inocência garantida dos nossos rádio-tele-íntimos, no mesmo período em que se pune um tal Queiroz, todos vós, todos nós que usamos ou abusamos do vernáculo quando o stress sobe diante dum qualquer policia, perdão, dum fiscal cuja mãe não deve frequentar o ginecologista.
Mas ainda alguém se lembrará que quando esta história começou, houve quem cavasse do país da tanga, para um lugar nutrido em Bruxelas e um secretário-geral do PS, também salpicado com trampa, que se demitiu e zangou com o então PR por este não ter dissolvido o Parlamento e nos ter poupado à experiência governativa do menino guerreiro? A História é só uma, mas os não factos explicam muito mais do que os factos que a historiografia mostra.
Eu apelo hoje e sempre para o Supremo Tribunal do Bom Senso

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Regressado de Agosto


Diz-se que no Triângulo das Bermudas, no mar dos Sargaços, acontecem coisas mirabolantes. Também eu me meti num mar estranho, melhor dizendo num verdadeiro Oceano de Perguntas, sem equipamento adequado além dos escrúpulos que me servem de bagagem suficiente. Porque apenas perdemos aquilo que jamais tivemos e só podemos dar o que já tivermos dado, só se pode dar o que já é do outro. Tudo o que perdi é que agora é meu.

Meti-me no Oceano das Perguntas e aportei na Costa dos Silêncios. Julguei que perto devia ser o ancoradouro das Respostas Certinhas, porque, relativamente próximo, ouvi que com a invasão do Iraque os americanos conseguiram apenas uma coisa, a divisão dos europeus. Ouvi dizer que retiram agora, como retiraram sempre, salvo na segunda guerra mundial. Como retirarão do Afeganistão... Depois, dei-me conta que não estava perto do lugar que queria, uma vez que ouvi dizer que a França expulsava ciganos romenos. Estava no sítio errado, não onde queria. Mesmo numa Europa portadora duma doutrina de perdão não pode haver eclipses de memória que anulem o passado.

Vamos ver se encontro o estreito da Dúvida ou a Larga Passagem do Erro e da Asneira.

Chegam-me notícias de Moçambique. É bom que os Turcos que se preparam para assaltar o poder em Portugal vejam o que é perder a paz social ganhando pontos na economia.

Agora eu sou o Próximo e afasto-me.

Doutros será a certeza de que o Tempo se esquece dos ontens.