terça-feira, 27 de julho de 2010

Tio das Noivas


Estamos perto com o Messenger ou com o Skype, pelo telemóvel ou por qualquer outro suporte informático de quem está longe, mas raramente, muito raramente mesmo, nos encontramos cara a cara com amigos e família em momentos de alegria e boa disposição.

Regressar a casa, depois dum périplo de casamentos cumprindo o feliz papel de tio de gente nova, é óptimo. Sugere uns acordes dum fado… muito vivido, muito mais falado que cantado, mas fado.

Cada par, guitarra e voz, chegará ao seu “sol” de acordo com a sua pauta.

A todos eles desejo quanto há de melhor, felicidade; palavra suspeita para dizer equilíbrio. Todos sabemos que tal desiderato apenas se consegue após passar pela escola da dificuldade e da adversidade.

Bom foi ver todos. Mas o melhor de tudo, foi ver os olhos límpidos dos noivos. Elas e eles apostavam no futuro e isso é lindo.

Gostei, que num calor infernal, todos tivessem um comportamento amigo.

Foi nítido, no brilho de cada um, o reflexo do seu trabalho.

Os casamentos foram dois, e o meu fígado apenas um.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

14 Juillet


No dia 14 de Julho de 1970 houve grandes festejos em França e nos States Nixon aprova o malfadado e pidesco Plano Huston para vigilância doméstica que permitia a devassa da vida privada. Na Europa estava-se ainda no rescaldo do Maio de 68 e havia que mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. Além das comemorações oficiais a festa popular tinha que se despolitizar. O governo francês estimulou as naturais e conhecidas festas de rua pagando generosamente calvados, vinho, cerveja e outras despesas que até aí seriam impensáveis. Entretanto na Guarda, na Alameda de Santo André, sentados num banco do chafariz roubado à Vela, um parzinho trocava o seu primeiro beijo. Não lhes soube a jasmim nem a mentol, talvez a SG Filtro. Quarenta anos volvidos que terá acontecido aos pombinhos? A vida dá voltas e reviravoltas e o mais lógico foi o destino ter atirado cada um para seu lado. Havia a Guerra Colonial, houve o 25 de Abril e as vicissitudes várias da vida. De resto os amores de Verão enterram-se no Outono. Se aquele par teimou em ficar junto, o sentimento que unia aqueles dois miúdos foi mais que teimosia, foi mais forte que betão. A vida é sempre mais fantástica que a ficção, estou farto de o dizer. Sei o que lhes aconteceu, ainda hoje se namoram

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Guarda


De manhã visto-me de imaginação porque quero viver quanto baste.
Dispo-me porque há calor. Dispo-me de chatices para compensar quem se veste com dificuldades alheias, aqueles que num mar de reais problemas, publicam e mostram misturas de alhos com bugalhos que não existem. Engraçado, antes de uma coisa má acontecer, (segredo partilhado com quem o não merece), surge o boato, depois a notícia que o confirma e acaba por sustentar um outro mais cabeludo, jamais confirmado.
Dispo-me de sofrimentos…
Se por aqui ficássemos a coisa era feia mas não tão feia. Se alguém que não é da região da Guarda e chegou até aqui, perdeu o seu tempo. Isto agora é só para iniciados.
Dispo-me de mágicos cansaços.
Gosto de fotografia e sei que a partir de agora posso começar a desfocar a imagem…
Dispo-me de reais ou químicas irritações…
Qualquer blogger que se preze tem como superior objectivo atingir o alvo supremo e inatingível, aquele que nos dá consistência e matriz, os que lêem, possivelmente os leitores do Amigo da Verdade. Quase que é um sacrilégio misturar o conceito universal de blog e uma folha paroquial. Mas se este texto pode ser lido em qualquer parte do mundo, sei que aquele panfleto é lido pela população mais conservadora e geograficamente mais próxima, que não lê este, porque não tem equipamento nem necessidade, treino ou vontade, exactamente porque ali nada mais chega, além da informação veiculada por certa parte da Igreja, mérito dela. E a informação não serve quem a faz, mas quem faz o editing.
Dispo-me de preconceitos…
Pior que um mundo de inteiras más verdades só as meias má verdades, mesmo que sejam apenas parochiais

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Aranha apanha isso




Do alto da montanha
Vejo Espanha, a Grande Aranha.

Translúcido o futuro, clara e pobre a manha
De Madrid com Las Puertas de Alcalá abertas,
Pura artimanha…

O Jovem Falcão nesta ordem é noviço,
Aranhiço, com viço mas sem feitiço,
Melhor que o turco, de cabelo postiço.

Deixemo-nos de cenas,
O calor esturra a careca o toutiço e a banha,

Chego do Parque, suado passeio,
Diária façanha.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Máquina


Eles inventam tudo, diz-se. Um dia inventam a máquina da morte. Não a da aniquilação total, mas a máquina que mostra a morte tal qual um ser vivo morre. O tal aparelho que contém o on/off da vida. A MÁQUINA que todos desde sempre procuraram e que as religiões garantem conseguir, capaz de ligar depois do desligar. O engenho, como um ser vivo, e com toda a actividade inerente a um ser biologicamente activo acaba por morrer, mas neste aparato a coisa é parada, suspensa e acima de tudo reversível.

A minha crença, ou meu egoísmo, faz-me crer que há uma parte de nós que persiste. Não sei exactamente onde nem como, (ou saberei?). Mas cada vez são mais os que ontem eram meninos e partem com doenças próprias da velhice. Como diria o meu pai, nunca os velhos foram tão novos.

Por outro lado, li que na Paris do no sec XVI eram tão raros os que chegavam aos oitenta anos que havia na altura um homem dessa idade que não tinha irmãos, filhos, nem netos e tinha vivos apenas bisnetos. Sentia-se incompreendido, deslocado e só. Olhado como um ser doutro mundo encaravam-no e ouviam-no temerosamente como um oráculo vivo.

Imaginemo-nos nós com duzentos anos, que meeedo!!!