quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Luar de Janeiro

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Das mais belas sonatas à versalhada mais pueril, das mais infantis às mais elaboradas e eruditas manifestações artísticas há obras tituladas luar. Muitas remetem directa ou subliminarmente para o de Janeiro.
A noite até pode ser glacial, mas que tem uma luminosidade prateada diferente tem, que os objectos adquirem contornos mais vivos e que os corações românticos palpitam e muitas borboletas acordam nas nossas entranhas também. Tem de haver algo de muito velho na espécie humana que ele activa.
É como um presságio. Sentimos que entrámos na curva ascendente do tempo. Uma luz prometedora vem lá. Trata-se dum conhecimento que vem do mais profundo passado, mesmo antes de sermos humanos. É de alguma forma um pronuncio de primavera, um chamamento à vida, o renascer após o frio, filho querido da morte.
Entre nós, quando alguém diz que não há luar como o de Janeiro, diz-se logo nem o de Agosto que lhe dá no rosto. E com alguma brejeirice continua-se que não há amor como o primeiro, nem lenha como do azinho, nem filhos como o do padre que chamam ao pai padrinho. Primeiro amor, noites de Agosto, calor, relações reprimidas tudo referências a quanto há de mais primevo e vital.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nunca se mente...


Cada dia que passa sinto-me mais inocente e aprendo coisas novas. Das mais novas (não assim tanto) e belas descubro que o sabem antes de estar em idade de o saber.

Como de tudo.

Minto descaradamente.

Como. Como desde a carne ao peixe aos mais diversos vegetais.

Sou mais selectivo no beber, pois apenas bebo água, vinho, socialmente cerveja e nos momentos que não lembro whisky.

Mentir é uma arte. Não é só faltar à verdade, nem ficcionar uma realidade. Mentir é mais que isso. É induzir o próximo a uma verdade na expectativa que os ouvintes ou leitores possam acreditar nela. Portanto uma declaração verdadeira pode ser uma mentira se o falante acredita que ela seja falsa.

Mentiroso é aquele que conta uma mentira.

Está visto, isto de gostar de nos vermos ao espelho e lavarmo-nos ao mesmo tempo é impossível.

Tanto queria ser verdadeiro e menti.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

E o orçamento do estado


Dizem os mestres na matéria que o sonho é uma manifestação do inconsciente que ocorre no decorrer do sono.
Sonho acordado todos os dias. A dormir, que me lembre, só às vezes. Graças a Deus não tenho pesadelos nem sonhos que me incomodem. Mas a noite passada tive um verdadeiramente bizarro e em estratos ciclicamente repetidos: estava num casamento e além do noivo, que nunca vi, ser passeado dum lado para outro em estado etílico-comatoso, a noiva mandava recado que não casava. Freud explica isto e até eu, o leigo mais leigo na matéria, posso tentar ... O que não encaixa é o pedido que durante o sonho me é dirigido permanentemente e em todos os sotaques pelos convidados que não conhecia. Queriam à viva força que os autorizasse a começar a comer um imenso banquete servido no Templo.
Está visto, temos que meditar acerca da vida e de todos os outros assuntos em que convém meditar para se ser sábio…
Não posso permitir que entre mim e o meu semelhante se alongue mais uma sombra.
Mais palavras seriam inúteis.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Imperioso e urgente


Quando de mim perder a humanidade, lá vai mais um que não faz falta.

Já não faz falta nem nunca fez. Só faz falta quem está presente. Os que não estão, nunca estiveram ou não querem estar, encontramo-los de menos, (ai que Castela é aqui tão perto!!!), mas falta… (?) os ausentes não fazem.

Andamos todos fugidos dos cemitérios. Mas não me consta que alguém tenha tido sucesso definitivo em semelhante tarefa. A vida é uma benesse. Escravatura duma pulsão, uma ponte entre mundos, uma dor, um serviço ou uma miragem? Sei como é, tal qual um recém-chegado a lugar desconhecido…

Viver e sabê-lo é o único milagre. Tudo o resto é química física ou biologia.

A única obrigação é ficarmos disponíveis e desligar o que a sociedade nos ensina a ter em On permanentemente, o complicómetro do protagonismo, do egoísmo, da desconfiança, da suspeita, da intriga, da inveja e do medo.

É universal e obrigatório acreditar, saber que somos capazes de deixar o mundo melhor que o encontrámos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Santo Óleo



Até aos trinta e poucos anos vive-se, depois aguenta-se, resiste-se, envelhece-se, resiste-se e morre-se quando já se não resiste.
A morte começa não quando se nasce mas no momento em que se toma consciência que se vive resistindo. Miguel de Unamuno diria isto muito melhor.
Por isso, um jaep que conheço não estranhou quando olhado de viés, viu enxugarem uma espécie de lágrima espalhando-a com a mão e dizerem-lhe após um suspiro:
- É assim, só não vês porque não queres. Os alcatruzes da nora da sorte gemem e são as lágrimas dos que sentem que as lubrificam, não as dos que as fazem. Repara, esta é a atitude natural da existência humana. Nada menos, mas também nada mais. Sem untar a coisa, o acordo não existe.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Cruzes Canhoto


Foi um grilo falante que me disse para não fazer citações e não as faço, mas custa. Davam-me muito jeito. Palavras prévias porque vou falar da cruz e conheço uma série de textos que podia citar. A cruz é na sua origem um instrumento de tortura e morte, e sobre ela milhares de outros escreveram muito melhor que este pobre escriba algum dia o fará. Como imagem religiosa passou a ser o seu contrário, representa a salvação e a vida. Enquanto palavra emprega-se de maneira ambivalente e dá para tudo. Icon da nossa civilização é característica de inúmeras imagens identificativas de prestimosas instituições e está representada desde a bandeira à forma da muitas das insígnias e condecorações nacionais. Não tenho nada contra. Posso ter é contra outra coisa.

Isto porque acabei de ouvir na televisão que o PR Cavaco Silva vai presentear com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo o ex PM Santana Lopes. Tal notícia fez-me sorrir, por um instante não sabia como devia interpretar nem o sentido da palavra cruz, nem onde lha iriam aplicar.

Atendendo a que o PR está acima das lutas partidárias e que Santana Lopes anda numa roda-viva à procura de protagonismo, perdão, de forças para arregimentar o seu congresso, esta cruz é a verdadeira imagem da nossa cruz.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

The Reader de Stephen Daldry


Nestes dias o frio e a neve remeteram-me para dentro. Para dentro de casa e para dentro de coisas velhas (eternas?) com roupagens novas. Voltei a Karl Jasper; isto é uma pequena mentira porque não foi bem assim. Em comuns e vulgares práticas domésticas relembrei o psiquiatra filósofo existencialista e acabei a pensar na verdade. Na verdade formal, na analítica, na sintética, para não falar do trabalho que me deu, (agora com a Net é simples e fácil), chegar ao deflacionismo, à desmenção, ao pragmatismo e ao desvelamento.
Não me preocupei com todas as formas de mentira, desde a pura invenção ao sound byte. Não me preocupei com sofismas nem com falácias, nem com discursos políticos.
Relembrei que ao fim e ao cabo, e quase sexagenário, ainda não sei se é mais importante a regra se a circunstância. Seremos sempre nós e a circunstância ou nós estóicos cumpridores da regra que ajudamos o Mundo a avançar e a ser melhor? Para os outros, e para o mundo físico, parece que fica sempre e apenas o que fazemos e jamais o que sentimos.
A Regra e o seu cumprimento, será esse o caminho?
É curioso escrever isto no presente momento político e com tanto frio lá fora. Uma coisa é certa, sou um homem livre, e isso é bom.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sou como um poeta.

Sou como um poeta

Obscuro

Sem palavras

Distante

Só.

Vivo de recordações

Os mais belos marcos coloridos.

Admirador marginal,

Sem despeito, amargura, ironia

Gosto da vida.

Fujo da cartilha

Sinto-me afortunado

Nestes anos de partilha.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A felicidade exige valentia


Não sei se li, se me disseram, se sonhei, ou sonhei que sonhei, que alguém disse que fazer citações era apregoar ou exibir ouro falso. Garantidamente quero mostrar ouro e do melhor, só que não é meu. De resto não me cabe guardar quaisquer louros por o ter descoberto já que não é fruto de trabalho meu. O meu amigo Eduardo enviou-mo e quero mostrá-lo.
Nasceu no cadinho alquímico, a alma dum genial poeta, laboratório onde a poesia e a filosofia criam conhecimento e sabedoria. Eis algo para termos presentes, todos e cada um de nós, nados neste jardim à beira mar plantado, agora que nasce um novo ano.
Deitemos fora toda a ganga que pesa e de nada serve e depreciemos as medi(a)nas carreiras crespas nas suas ordinárias, porque vulgares e fáceis palhaçadas. Reconstruamo-nos com as melhores pedras, as que os medíocres rejeitam por não estarem na moda da profecia da desgraça, da má-língua e da mal disfarçada dor de corno.

“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa - 70º aniversário da sua morte