quarta-feira, 29 de julho de 2009

Orientação Salutar


A prática religiosa católica determina, aos que podem, comungar. Aceito o rótulo de católico apostólico romano e infelizmente não me sinto em estado de alma, (ai a minha pureza!!!), de participar na comunhão. Inocente quanto a alguns pecados sim, mas pecador confesso de muitos outros também.

A Conferência Episcopal Portuguesa determinou salutarmente que a Hóstia será dada na mão dos fiéis e não na boca, cumprir-se-ão normas de higiene estritas antes da eucaristia a fim de prevenir contágios pela gripe A. Pede-se aos padres e ministros da comunhão que utilizem produtos de higiene para as mãos, recomendados pelo Ministério da Saúde. O Abraço da Paz não será dado apertando as mãos ou com um fraternal beijo, mas apenas com uma leve vénia, e retirar-se-á a água benta das pias das igrejas. Tudo isto são meras normas de salubridade e não entendo porque não se adopta atitude semelhante face a outras práticas, onde se impõem comportamentos indicados pela mesmíssima autoridade de saúde, quanto a higiene e bom senso, como o uso do preservativo.

O farisaísmo não é exclusivo dos outros. Pensando bem, às tantas, quando convém e a coisa toma caminhos ignotos, todos nos agarramos à letra da lei e não ao espírito da dita.

Não sirvas a quem serviu, não fumes a quem fumiu, orelhas moucas a quem de saúde e podas mostra sabedorias poucas.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Já chegámos à Madeira


As belicosas e biliosas práticas madeirenses não chegam cá. Não praticamos a poncha e o Madeira Wine que fazem mal ao fígado, ao bom senso e à serenidade.
A luta política dispara ideias, palavras, argumentos e pode em tempos de campanha eleitoral arremessar com toda uma panóplia de artigos publicitários.
Disparar armas, com munições reais, sobre a quinquilharia do adversário político em tempos de absoluta paz social é a coisa mais porca, nojenta, asquerosa, desumana, execrável e antidemocrática que existe. Entre o objecto alvo e o seu proprietário, na perspectiva do sniper, é um movimento quase imperceptível, poucos graus, um doce e agradável calor espalhar-se pelo corpo, o melhor alvo na mira, o troféu proibido e o tiro a surpreender o atirador... A merda está feita.
Não tenho no meu léxico adjectivos suficientemente desagradáveis para qualificar o abjecto energúmeno (e quem lhe dá cobertura) que carregou no gatilho e disparou sobre o dirigível do provocador e lamentável PND madeirense.
Há limites para a javardice.
A GNR, a PSP e o Ministério Público não têm nada a dizer? Ou “saíram do armário” os javardos assumindo-se como tal, e têm alvará para cometerem toda a casta de pulhices. Eis uma das razões para a regionalização ser um assunto tão querido aos portugueses.

domingo, 26 de julho de 2009

Temporada apalermada


Hoje faço jus ao período em que estamos.

Esta silly season coincide com a temporada de chocar os ovos que darão a ninhada de novos (alguns já velhos) governantes locais e nacionais. Infelizmente, às vezes, de bom ninho sai ruim passarinho. O calendário eleitoral não se compadece nem com o sol nem com férias e a tarefa deverá ser executada a preceito, com inteligência, seja a temporada mais ou menos apalermada. A propósito de apalermada, entristeceu-me a leitura da entrevista hoje publicada no JN dada por uma actriz da minha idade e de quem me habituei a gostar. Abominei ler que estava farta da democracia, que o País era melhor no tempo de Salazar, que quando tinha 18 anos ganhava 14 contos o que era uma fortuna e que agora não há liberdade.

Estou mesmo a ver a Comissão de Exame Prévio, vulgo censura, deixar passar o título “Monólogos da Vagina” que vem trazendo à cena. Ressabiada com os estragos que o tempo lhe fez no corpo, (ninguém pagará setenta euro para o ver) e os desamores e desaires que lhe devastaram a alma, culpa o País e a democracia. Parece não ser só a estação que é silly. PDI…

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Oeste e a Serra



Eis-me regressado dum passeio pela Região do Oeste. Foram dias de barriga à lameira, de sol e mar, e de pôr o visto numa série de lugares a revisitar (já por lá tinha passado em tempos de tropa) e outros por completo desconhecidos.
Vi e falei com pessoas, algumas verdadeiras figuras de desenhos animados e mantive-me longe dos jornais tele ou de papel, excepção feita ao Expresso.
Obviamente que com este santo corpinho tenho que prestar primeiro que tudo mes hommages à excelência da gastronomia da região.
Não fiz nenhum esforço especial para reflectir no que os meus olhos viam e os meus ouvidos ouviam. Aquela boa gente tem um sentido auto-reflexivo, de hiper-identidade, e auto-complacência em tudo igualzinho ao nosso das Terras Altas. O homem português de facto existe à semelhança do Homem do Rei de antanho, que me desculpem celebrados e premiados historiadores. As maleitas de que sofre o povo mais vizinho são exactamente as das outras regiões.
No que concerne ao sentimento político é visível a semiose (a linguagem é mais abrangente que a fala): Casa Pia, BPN, e tudo o resto que já passou em julgado nos média, leva a que socialmente sejamos translúcidos, e toda a análise se torne pouco profunda e de subjectividade induzida.
Todos somos culpados se uma ave de arribação travestida de D. Sebastião for catapultada para a peanha do poder.
Os males da democracia tratam-se com mais democracia. Sejamos exigentes connosco e com quem elegemos.
A propósito, não é qualquer um que a Guarda quer.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Falso Jardim Oriental


Regresso de férias,

Olhos cheios de praia, mar e lérias

Exércitos, Budas, Vishnu e Shivas

Uns de carne, gordas feras

Outros de pedras;


Blocos de calhaus, colossais e feios;

Espectaculares, nos iniciais momentos,

Depois, a última e medíocre sensação

Da visita a enorme loja de trezentos,

Sem religiosidade nem ternura no coração.


Regresso a casa e ao sonho

De imediato parto.

Já que posso voar

Peço-te,

Acende-me os teus olhos para que possa voltar.



sexta-feira, 10 de julho de 2009

Revelações


Não duvides das minhas dúvidas,
De mim, talvez.
Não duvides do carinho e da minha ternura,
De mim, talvez.
Não duvides das palavras meio comidas,
De mim, talvez.
Não duvides desta leitura…
De mim... talvez!!!




segunda-feira, 6 de julho de 2009

A luz do Ozendo


Fascinam-me as localidades de luz parada, coalha, de silêncio imóvel, onde nada acontece, lugares mais fotográficos e menos cinemáticos.

Adoro tudo o que não acontece, quase tanto quanto o que aconteceu.

Adoro sentir o etéreo e subtil, quase tanto quanto uma patuscada e copos com amigos.

Gosto de ser de carne (muita) e osso, e não um diáfano ser. Gosto de ver, gosto de cheirar, de saborear e de todos os outros sentidos.

Quanto menos bebo da árvore do conhecimento e me aproximo da natureza, mais aprecio a relatividade das coisas e o valor das pessoas, dos animais e dos lugares. Quase me converto a um radicalismo verde.

Chegado aqui evoco o seu contrário. Tenho todas as razões para não gostar da Grande Lisboa nem da pequena.

Detesto o humano formigueiro, esgoto dos despojos dum país, cloaca de matéria putrefacta, num vai vem sem sentido e sem fantasia. É uma cidade de muita luz, mas sem cor, uma luz derretida, meio húmida que bloqueia o sonho e eu preciso do sonho, como de água ou de comida. Habitualmente tanto sonho acordado como durmo a sonhar.

Muito simulacro de vida impede-me de fantasiar. Na pequena Lisboa há monstros, diabos à solta, fantasmas bem reais. Entre todos, os mais detestáveis são os falsos aristocratas de província com pretensões a cosmopolitas, intelectualóides frequentadores de ambientes sórdidos, desde as tascas e bordeis aos gabinetes ministeriais. Escuso de os sonhar, existem. Não me assustam mas entopem-me os sentidos. Não os vejo em Paris, mas talvez existam como subproduto, não como os nossos, de genuína e profícua produção nacional.

Mas Paris é diferente, tem luz própria mesmo de noite. Paris é o único lugar do mundo onde se pode viver sem dinheiro. Isto não é uma tontaria nem uma liberdade poética, é uma verdade verdadinha. Paris cidade luz, é mais que uma cidade, é uma civilização, é uma forma de vida, é um deliquío...

Acenem-me do Ozendo ou de Paris que eu vou. Chamem-me de Lisboa e direi que irei logo que seja oportuno.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Prefiro o confronto, mesmo gestual


Não divulgues os teus sentimentos
Nem critiques a tua cidade
Nem os homens da sociedade
Não cochiches acontecimentos

Não tires da intuição, palavras, poesia
Não perguntes, não dramatizes,
Não te aborreças, nem supliques,
Interrogares-te não é filosofia.

Os esqueletos das famílias...
É nada, apenas pó feito de tempo.
Sepulta a tua infância e o que lias.

Não pugnes pela moral naquele momento
Nem quente, nem frio, sê morno, médio.
Não morrerás de doença, mas de tééédio.