terça-feira, 30 de junho de 2009

Metendo a foice em seara alheia


Quando estudante liceal aprendi que os Manes, Lares e Penates eram divindades proto-romanas que representavam as almas dos entes queridos já falecidos. Os romanos teriam absorvido estes deuses menores aquando da romanização dos territórios que iam ocupando. Os altares dos Lares saíram de casa e foram colocados nos trilhos, sobretudo nas encruzilhadas, de forma a abençoar as terras e os caminhos.

Após a conversão de Constantino e a evolução da Igreja Católica para igreja e religião dominante, esta cristianizou tudo, desde os templos, às datas, às festas, os altares, aos símbolos, a tudo, para se poder afirmar em todos os aspectos da vida pessoal e social dos indivíduos.

Chegados a este ponto que parece pacífico, alguns autores pretendem que os Cruzeiros e as Alminhas nada mais serão que os Lares cristianizados, pois pediam uma oração pelas almas do purgatório. Não me repugna acreditar nisso, embora saiba que as recomendações conciliares sobre este assunto são muito posteriores à sua prática. Mas o que me traz aqui é outra coisa. No post anterior mostrei a fotografia duma pedra, pedaço do conjunto que encima este texto, que quando perguntei o que era, foi-me respondido que era uma Alminha. Vou jurar que não é, porque parece de concepção/construção muito anterior. Não tem nenhum símbolo cristão, nem cruz, nem peixe. Atrevo-me a dizer que é uma evocação ao espírito da água. Tem em cima desenhado umas ondas e na base uma planta que me parece aquática. E se é uma raríssima imagem evocativa de Juturna deusa romana das fontes?

Haverá por aí alguém que goste e saiba de Arqueologia e queira pegar na pedra ou na ideia que sempre será mais leve?

Uma coisa parece certa, o centro ortotécnico do Universo é habitado há muitos, muitos anos.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ao Ozendo e seus naturais


Forte ou simples camponês,
Contrabandista, emigrante,
Patrão ou empregado, amante,
Das sete partidas português.

Independente, a origem não nega
Da terra, porque a freguesia abomina.
A divisão administrativa
Pregou-lhe histórica partida.

As que lá nascem são perfeitas, irónicas,
Sedutoras, meigas, de pelo na venta,
Mães extremosas mesmo na tormenta
Sei-o eu e assim rezam as crónicas.

Vemo-nos em festas religiosas, fugazes
E nas pagãs touradas: “Oh forcão rapazes"!!!.
Muita adrenalina namoros marca
À noite há baile e a carne… é fraca.

Lugar ímpar, local simpático
Recolhido e distinto altar iniciático
Ozendo, centro do Universo,
Saúdo-te e aos teus, no que parece escrito em verso


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Universos Paralelos, Fascinante, Intrigante



Todos conhecemos e percepcionamos as três dimensões espaciais, comprimento, largura e altura (profundidade). No início do sec XX Einstein introduziu uma outra, o tempo, (espaço e tempo seriam manifestações da mesma realidade), e assim passaram a ser quatro. Anos depois, nos cálculos físico- matemáticos apareceu a necessidade de introduzir uma quinta. Hoje já são onze. Entretanto outros Físicos vieram a dizer que a realidade como a conhecemos não é constituída por partículas mas por cordas (Teoria das Cordas).
Bastante mais tarde apareceram a terreiro outros sábios afirmando que o tempo existia antes do Big Bang,(Zé António a tua filha é que sabe), qualquer coisa como antes do ser já o era, uma singularidade estranha. Mais recentemente já não eram cordas mas membrana (Teoria da Membrana, teoria M de mágico) e finalmente a teoria das membranas, mais que uma, e a explicação que o Big Bang inicial teve origem no bater/roçar entre duas ou mais membranas dando origem a um Multiverso (muitos universos).
Vêm-me à memória os escritos de Louis Pauwels e Jacques Bergier, de facto parece haver lugares mágicos e muitos mundos co-existindo. Neste sou bancário aposentado, noutro monge budista, noutro ainda almocreve e aí por diante e noutros nem sequer existo. O filme não refere, mas eu não podia deixar passar em branco, já Leibniz (1646 – 1716) afirmava que todos os mundos eram viáveis desde que se cumprissem as regras da lógica.
É intrigante, fascinante, demora um pouco mas é um excelente trabalho da BBC legendado em português e vale a pena ver. Sigam este link

http://www.youtube.com/watch?v=o9LV9vaGxJQ


quinta-feira, 18 de junho de 2009

Anjo caído


Anjo caído,

Sem cruz na mão

Quebrou

Acabou:

Asas murchas no chão.


Homem,

Atrás dos óculos,

Atrás do bigode,

Subitamente,

Entra surdamente no reino das palavras,

Não foge.


Breve é a prece,

Os olhos eleva,

Deserdado filho de Eva.


Religa a lembrança,

Quase acredita.

E acende

Ténue

Nova chama de esperança.


Estranha e doce calma

Espalha suavemente pela alma.



terça-feira, 16 de junho de 2009

O'Neill e Régio no mesmo texto?


Outro dia encontrei o meu amigo Eduardo no parque onde passeio o meu peso e as minhas dores, da alma e do corpo. Para estas ainda conheço da aspirina ao tramal, para as outras, nada. Segundo ele, devia deixar de referir aqui meditações e tornar isto mais leve e partilhar com as plantas do polis do rio Diz as minhas reflexões, digo eu. Como não tenho ilusões, sei que o resultado é análogo. Não sou psiquiatra mas julgo que escrever num blog é uma prática narcísica ou coisa semelhante. Para mim, conscientemente, é um exercício catártico, de limpeza, forma de exorcizar alguns fantasmas. Enquanto assim for continuarei a fazê-lo.
Desde há uns dias que me bailam na cabeça como se fossem uma espécie de vermes as palavras de Alexandre O’Neill

Às dores inventadas prefere as reais.
Doem muito menos ou então muito mais.


Os anos passam, o corpo engorda e a alma à míngua de ilusões e projectos mirra, ficando um intenso sentimento de perda, de roubo, de luto. Régio escrevia que:

Só se sabe que perdemos aquilo que jamais tivemos

Bem quero aprender a deixar fluir as coisas, sentir o espírito dos lugares, desprender-me das coisas e das pessoas.
Preciso de luz interior…
Terei que procurar uma ordem mística oriental que me aceite como postulante…


sábado, 13 de junho de 2009

Ninguém é profeta na sua terra



Tive ocasião de aqui me referir a uma cidade que espera pelo descongelar das calotes polares, branca por fora, cinzenta por dentro e de que é difícil gostar. Essa terrinha imaginária, ou nem tanto assim, tem a particularidade de não reconhecer os seus melhores. Qualquer ave de arribação ou cuco ali medra e se não se põe a pau é homenageado, ou com o nome numa rua ou mesmo com uma comenda…

Há dias, isto é pura imaginação, um cantor pimba da televisão, da rádio, do CD da cassette pirata ou não, reconhecido em todo o país e na diáspora, (como gosto desta palavra), teve necessidade de voltar por dias à sua terra por motivos bem tristes que se prendiam com a saúde dum familiar que infelizmente faleceu. O escriba deste blog estava dentro do carro na avenida que leva ao hospital e reconheceu o tal artista, recordava-se dele do tempo que cantava numa agência de documentação automóvel. Com muita surpresa sua, reparou que aquela figura pública, de botas de tacão alto, caminhando num passo gingão de marinheiro em férias, (por favor olhem para mim, vejam quem sou), era olimpicamente ignorado por todos.

O bom do cantor devia estar a sentir-se noutro planeta. Em Lisboa, Genebra e mesmo em Paris saúdam-no, cumprimentam-no, pedem-lhe autógrafos e na sua terra natal é um ilustre desconhecido.

Isto é porque ninguém é profeta na sua terra, ou será alguma dificuldade, alguma patologia com origem num sentimento menor vulgarmente conhecido por inveja…

terça-feira, 9 de junho de 2009

Fractais


Quando alguém ganha honestamente no jogo democrático saúda-se e dá-se os parabéns aos vencedores. Por um voto se ganha por um se perde. Mas e há sempre um mas, esta época é estranha, um tempo sui gerenis este nosso tempo.
Em plena hecatombe financeira e económica, provocada pela decantada auto-regulação do capitalismo liberal, a Europa vota à direita. A mais antiga democracia europeia, a velha Albion, elege um eurodeputado da extrema direita. Num momento em que a esquerda podia e devia fazer valer as suas teses, (se é que as tem e quer aplicar), contrariando a realidade gerada por políticas conservadoras, o povo europeu vota, por absurdo que seja, nas posições ideológicas que nos trouxeram a este entalanço. Aparentemente o povo do vetusto continente quer mais do mesmo. Já aqui afirmei que mais cedo ou tarde far-se-á um refreshing. Para iniciar um novo ciclo é necessário mudar alguma coisa (pouca) para que tudo fique na mesma.
Vivam os Madoff e outros sacerdotes sem escrúpulos. Liberdade imediata para Oliveira e Costa; condecore-se Rendeiro amanhã 10 de Junho.
Em casa, temos vindo a assistir há uns tempos a esta parte ao PC e à Intersindical objectivamente a fazerem o mais inteligente, difícil e histórico frete ao partido dos baronatos.
Que tempos estes…
Todos os partidos ganham e só um perde. Para ser mais exacto só um partido perde, porque a votação mostra que nenhum ganhou. Só pouco mais de um quarto do eleitorado se pronunciou, (considerando a abstenção, votos brancos e nulos) e a única conclusão não abusiva é que a democracia perdeu.
Não tenho partido mas não sou apolítico. Enquanto cidadão voto e pretendo ter aqui e ali alguma intervenção cívica.
Em tempos destes quem se admirará que uma borboleta provoque um furacão.

domingo, 7 de junho de 2009

Pensar é responder



Escuto
O espesso barulho do silêncio.
E identifico a técnica
Origem, termo e identidade
Do pensamento,
Da fé
Da arte
Da ciência.
Consciência?

O discurso cala
O pensamento fala.
Mais
Na presença
Menos
Na ausência.

A palavra é crucial,
Essencial,
Único sinal
Pensamento puro e radical.

Abdicar de escutar
Cessar de falar,
Deixar de ser
Deixar de pensar.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Não me percutam


Ontem assistimos via televisão ao ministro das Finanças barrado e quase sequestrado por clientes do Banco Privado Português. Berravam alto e bom som que queriam o seu dinheiro de volta, nada mais justo. Devem tentar reavê-lo, reclamá-lo, mas a quem o entregaram.
Entregaram-no a um banco privado, baseado no principio duvidoso que a livre iniciativa é que produz riqueza, gere melhor os interesses que lhe são entregues, fazem aplicações com melhores taxas; mais que isso, era o Banco dos Ricos, ou já se esqueceram das 2ªs. e 3ªs.páginas da antiga revista do Expresso, meses e meses a fio. Enquanto ganharam vieram dar algum ao sector público? Declaravam os juros que recebiam? Então com que legitimidade pedem a todos nós que suportemos a estúpida escolha que fizeram porque era chique e dava status. Recordo a expressão sobranceira de algumas pessoas quando me exibiam cartas/chapas com o diminuto logo daquele banco. Curiosamente não registo a visualização de nenhum talão de depósito, dum cheque, duma promissória ou dum título de depósito. Tudo era desmaterializado e pelos vistos volátil também. Colocar todos os ovos no mesmo cesto, entregar as suas poupanças a gestores de fortunas, banqueiros de proveta, especialistas na ruína garantida, autentico alguidar de lacraus, não só é ingénuo é néscio. Resgatá-lo do nosso bolso é ladroeira.
Já agora os investidores da bolha reclamem também. Constitua-se o sindicato das vítimas de aplicações não reguladas.
Haja decoro.
Não me passaria pela cabeça pedir a quem quer que seja que me fosse devolvido o dinheiro que jogo na lotaria, no totoloto ou no euromilhões.
Joguei e perdi, temos pena.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Inicio-me na fenomenologia



Costuma dizer-se que a realidade é sempre mais fantástica que a ficção ou que a diferença entre realidade e ficção é que a esta exige-se que seja credível. Eis algo de fantástico. Perto de ser sexagenário e sabendo que burro velho não aprende línguas comecei a ler o Ser e Tempo de Heidegger.

Enquanto cábula aluno liceal de filosofia, do saudoso Dr.Francisco Pissarra, o meu estudo afogou-se em Kant.

Em paralelo e posteriormente tive passagens meteóricas, anos 60, por Camus, sobretudo com o marcante Estrangeiro, (evoco com frequência Mersault a beber café no velório da mãe, condenado mais por isso do que por ter disparado e morto um homem), caí demorada e um pouco mais fundo em Sartre, desde A Náusea, As Palavras e toda uma série de peças/tese de teatro, li (digeri?) L'Homme Unidimensionnel de Herbert Marcuse porque o estruturalismo era moderno, (após Maio 68), e acima de tudo, tive gosto em aprender com o irrepreensível pedagogo Bertrand Russel, particularmente na parte da História da Filosofia.

Depois, enfim, veio a fase mais bicuda: traduções da colecção francesa Que sais je?. Aí sim, a coisa complicou-se. A Filosofia era outra e determinava comportamentos, já não era uma coisa que se discutia diletantemente à mesa do café. Visto a esta distância até nem parece mau. Mas foi uma época marcada por raciocínios pretensamente tão anti-dogmáticos que só por si constituíam verdadeiros dogmas de fé. Meados dos anos 70 em pleno "Prec" surge-me La matin des Magiciens, verdadeiro despertar dos mágicos.

Agora chegou a vez de contactar com Dasein (Presença, Consciência, Pre-sença, Ser Aí)) de Heidegger, conhecer as cópias sem original de Baudrillard, e La différence de Derrida . Prometo não pegar em Levinas.

Suponho que não me fará mal. Já devo ter idade para isso.