terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Os novos sacerdotes


Conhecem-se documentos que mostram como os antigos sacerdotes eram iniciados em lugares mais ou menos tenebrosos, cavernas e outros tugúrios, onde eram purificados.

Ali observavam os mestres a executarem gestos e a usar uma “linguagem” que (re) ligava os homens e os Deuses. Tudo aquilo fazia sentido, as danças, as evocações, aqueles gestos e linguagem libertavam as energias que se pretendia, encontravam a serenidade, "conviviam" os vivos e os mortos, homens e Deuses. Parece que a dada altura a iniciação foi “apressada” (a eterna história do poder) perdendo os neófitos o sentido profundo e o porquê de cada gesto, de cada ritual. Foram perdendo a capacidade de serem os intermediários das relações entre homens e Deuses. Tinham abundante informação de tradição e memória mas não a entendiam, faltava-lhes o mais importante e essencial e que tinham tido os seus mestres: a magia do recolhimento e do bom senso.
Hoje, assistimos em todos os media e nos partidos políticos ao aparecimento de aspirantes a sacerdotes do Bezerro de Ouro “hiperinformados” e mais ou menos analfabetizados pelo economês. Nesta balbúrdia, e no domínio da poupança, como em muitos outros, acabamos por reconhecer autoridade e sabedoria que não reconhecemos a nós próprios, quando de facto, sobre a matéria quem tem dado provas somos nós, o povo que poupou e não contraiu dividas.
Com a difusão de tanto conhecimento e informação, paradoxalmente, ficamos muitos à mercê de poucos. São os novos sacerdotes que nos prometem a felicidade e dizem saber como tratar o Deus Bezerro de Ouro, ou os mercados que é exactamente o mesmo.

Há uns anos dizia-se que um especialista era o que sabia tudo sobre muito pouco, poderia inclusive saber tudo sobre o parafuso e nada sobre a porca onde este enroscava. Agora, um especialista e novo sacerdote é aquele que sabe muito pouco sobre tudo. A fauna que constituem os políticos vindos das jotas (as tais tenebrosas cavernas de iniciação) e respectivos assessores a quem falta o essencial, o bom senso.