segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ensaio



Apetece-me falar como se fosse de mim.
A vida tem-me tirado daqui, deste exercício de exibição, (puro narcisismo) e de limpeza, (puro capricho).
Há dias dei entrada no meu labirinto, um labirinto infinito, espécie de versão terrífica das 1001 noites. Caminhar num labirinto pressupõe que se opta por uma solução eliminando a(s) outra(s); no meu, inextricável que é, opto por todas e por isso corro o risco de não permanecer muito tempo consciente, aqui e agora. Caminho em todos os sentidos, daí a minha dor e contradição permanente. Assim, em cada bifurcação escolho ambas as hipóteses, mas sem aquela inabalável fé que se usa numa selecção. Escolho esta não escolha. Isto põe-me aturdido, assustado, com o coração descompassado e angustio-me. Fosse capaz duma coisa simples e resignava-me.
Entrei numa tarefa épica, verdadeiramente heróica: marcho para a batalha, com horror às sombras que me rodeiam, e dou de trombas com uma festa onde começam duas Histórias; simultaneamente iniciei a minha marcha noutro caminho, ignoro as sombras, salto as pedras, sinto-me forte e no campo de batalha encontro o vazio, onde de imediato tenho duas opções; escolho ambas…
E a espada? A minha espada lógica? Não a vejo, não a encontro.
Sairei deste labirinto, encontrarei de novo o meu coração tranquilo, sem optar por um só caminho?

2 comentários:

Helena disse...

"Há pessoas que nunca se perdem porque nunca se põem a caminho.", disse Goethe. Percamo-nos então...

Júlio Valentim disse...

...numa rede crescente de tempos diversos, divergentes, convergentes e paralelos