sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Credibilidade


No decorrer da minha vida profissional fui obrigado a atender as mais diversas pessoas, ouvir as explicações que a maioria das vezes além de desnecessárias, eram descabidas, descabeladas, inverosímeis e que em conjunto com outros sinais eram mais que suficientes para avaliar o carácter de quem tínhamos pela frente. É legítimo afirmar que pelo canto do olho decifrávamos os sinais que imprimiam carácter à maioria dos desconhecidos. Quantas vezes me enganaram? Bastantes, mas não tantas que invalidem o que disse. Nas relações interpessoais as variáveis são em tal quantidade, e a capacidade de camuflagem natural ou aprendida é tamanha, que nem o melhor bancário, psicólogo, psiquiatra, padre, juiz ou bruxo é imune ao engano.
Contudo, sempre me julguei um bom julgador de caracteres. Mas hoje, que tomo conhecimento duma decisão judicial que me deixa surpreendido, e porque não quero acreditar que tudo isto seja apenas um acto redentor da justiça portuguesa, penitenciando-se e apresentando-se de cara lavada, entro com dificuldade na fila dos que procuram tratar das mãos que queimaram no fogo da inocência garantida dos nossos rádio-tele-íntimos, no mesmo período em que se pune um tal Queiroz, todos vós, todos nós que usamos ou abusamos do vernáculo quando o stress sobe diante dum qualquer policia, perdão, dum fiscal cuja mãe não deve frequentar o ginecologista.
Mas ainda alguém se lembrará que quando esta história começou, houve quem cavasse do país da tanga, para um lugar nutrido em Bruxelas e um secretário-geral do PS, também salpicado com trampa, que se demitiu e zangou com o então PR por este não ter dissolvido o Parlamento e nos ter poupado à experiência governativa do menino guerreiro? A História é só uma, mas os não factos explicam muito mais do que os factos que a historiografia mostra.
Eu apelo hoje e sempre para o Supremo Tribunal do Bom Senso

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