terça-feira, 5 de outubro de 2010

Evocando outros 5 de Outubro

Conheci o homem que içou, faz hoje 100 anos, a bandeira verde rubra no Castelo a 1056 m de altitude. Eu, que no leite materno e em toda a minha educação, bebi os ideais republicanos, fiquei pasmado quando ouvi aquele velho dizer que com a emoção com que içou aquela, içava outra qualquer. Lembro-me do sítio, na altura e diante de quem fez semelhante afirmação, e que me soou a sacrilégio. Eram tempos difíceis. O 5 de Outubro era aproveitado para uns tantos irmos em romagem ao cemitério, com bandeira, evocando os republicanos (leia-se democratas) já falecidos. Recorde-se que o Estado Novo era formalmente uma republica e o dia era feriado, portanto uma manifestação a favor da republica era tolerada. Começava-se por evocar o general Adalberto Gastão Sousa Dias que tentou um putch no Porto em 1927 e depois outro na Madeira em 1931. Homem teso de quem conheci a filha, a D. Anita. Morreu em Cabo Verde em 1934 e foi enterrado na Guarda de noite, e em segredo, para não haver manifestações populares de qualquer tipo. Depois vinha a citação dos que merecidamente, ou não, deviam ser lembrados naquele momento. Recordo esses dias acima de tudo com saudade. Saudade duma angélica candura perdida. O que vim a saber mais tarde, e que ainda hoje só digo à boca pequena, puxou-me os pés para a terra. Boa e doce era a ignorância, tão suave e tão poética. A consciência e o saber corroeram, magoaram-me, moem e causticam-me os sonhos. A sacanice não é apanágio dum só clube, é às vezes, convenço-me, inerente à espécie humana…

Obviamente que a PIDE/DGS seguia-nos os passos, ouvia, tomava nota e escrevia. Mas escrevia mal, percebia mal e relatava mal. Só os nomes conferiam e mesmo esses…

100 anos depois da República se ter espalhado por telégrafo, e o poder ter sido entregue a uma oligarquia, as páginas dos jornais continuam com as mesmas palavras: crise, divida e défict. Mas isto meus senhores, é por não haver respeito pela res pública e não é obra de democratas mas de plutocratas, (palavra fina para dizer gatunos), de todos os matizes.

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