segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um túnel com janelas



Quem viveu no tempo do Estado Novo lembra-se da dificuldade que havia em ter estatísticas fiáveis. Os resultados de qualquer inquérito ou sondagem não eram minimamente fiáveis e muitas vezes, quase sempre, eram tão disparatados que não eram publicitados. A desconfiança natural dos portugueses, digo natural porque já é algo de atávico em nós, começou logo na fundação do estado português. O Estado nunca foi pessoa de bem. Confiscou, esbugalhou, devassou, distribuiu e ficou nem sempre com a melhor parte daquilo que não era seu. Daí sermos relapsos ao fisco e às sondagens quanto toca a coisas da carteira. Isto criou sempre uma grande distância entre governo e governados, salvo algumas e muito poucas excepções e sempre de curta duração. Pessoas como o escriba destas linhas que sempre defenderam a mais ampla liberdade de expressão têm a nítida noção que os media fomentam essa distância com parangonas permanentes com rebates plangentes pela coisa pública.
A necessidade de protagonismo, e a terem a sua primeira capa nos jornais, chega a levar o sindicato dos tabaliães a pidescamente investigar escrituras em que o primeiro ministro irterveio. Eis um novo serviço de inteligence levado ao paroxismo. Faz invetigação por conta própria e não responde perante ninguém. Não há memória de caso semelhante. Tentem ao menos fazer coisa parecida com os gestores do BPP, do BPN, do BCP e outra fauna reconhecidamente comprometida em pescas de águas turvas. Eis o ambiente de deliquescência a que se chegou, grau zero de confiança e de segurança politica vista à luz dos holofotes dos donos da imprensa falada e escrita.

Por isso rarissimamente se vê um governante no meio do povo num bate papo franco e não preparado, neste País onde parece haver uma epifania de casos mais ou menos escabrosos envolvendo pessoas ligadas à política, pondo em causa todas as estâncias do poder. Pelo menos vendem papel e têm sharing na televisão.

É assim, aqui vamos nós por um túnel curvo que nos traz sempre ao mesmo ponto, sem sermos capazes de sair, de rompermos com esse circulo ignominioso da lamechice duma forma livre e adulta, de nos valorizarmos, de não olharmos com desconfiança o poder público e desmentirmos Camões.


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