quarta-feira, 9 de setembro de 2009

9.º Mandamento


Quando acabei de assistir ao frente-a-frente Sócrates / Louçã percebi porque não ouço este ano os grilos. Enfim, ouvir ouço-os, mas com muito menos decibéis. Refiro-me também aos insectos ortópteros da família dos grilídeos dada a sua íntima ligação à noção de voz da consciência desde que Carlo Lorenzini escreveu o conto que o deixou célebre. Dito isto faço três coisas em simultâneo, cultivo quem lê estas linhas, (vão ver quem foi Carlo Lorenzini e ler o conto), provo que não há asfixia democrática e destruo o mito do BE ser a reserva ética e política, consciência da esquerda.
Os que se apressaram a tocar a finados por Sócrates, se forem ler o conto, verão que o corvo médico diz: "Quando o morto chora ou ri, é que está em vias de curar-se". Quanto a Louçã, com tristeza o digo, sentindo o cheirinho a poder, chegou à conclusão, publicamente divulgada por Rangel: a política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política. E isto meus amigos é tudo quanto há de mais desprezível, detestável e perigoso em política: exercê-la sem o rigoroso respeito pelos princípios que se diz defender. O falso moralista, o fariseu, o pré-pago pregador a dizer façam o que eu digo não façam o que faço. O poder corrompe, já se sabia, agora que o cheiro a o fizesse…
Assim não há consolo nem alívio num voto de protesto. Até posso adivinhar um futuro relativamente breve onde o BE é reciclado no PS.
E é bem feito.

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