sábado, 12 de setembro de 2009

Não veio vestida de preto


A revolução de 25 de Abril fez-se sem guião, ninguém foi capaz de prever o que aconteceu. Não falo dos primeiros tempos, que esses sabia-se como iam ser, estavam teorizados, havia até quem trouxesse a revolução já previamente escrita em tamanho de bolso, refiro-me ao que aconteceu mais tarde, pós Novembro 75.

A revolução foi educada, polida, a política entregue aos seus profissionais, e estes, embora respondendo perante o eleitorado, ficaram sempre directa ou indirectamente ao serviço das grandes empresas, onde eram recrutados e para onde retornavam acabada a comissão nos instrumentos orgânicos do poder. Todo este processo foi determinante para muito do que aconteceu aquém e além fronteiras, muito mais do que pode parecer, e isso com certeza não foi pensado.

Houve e haverá sempre quem tente enganar o povo, com papas e bolos.

Chega-se ao dia de hoje, acabei de assistir via TV ao debate Sóctares/Ferreira Leite e fico com a vaga sensação que querem fazer de mim parvo e tolo.

Pôs-se o pessoal a ouvir durante hora e picos um cavalheiro e uma velha e deprimente senhora a discutirem mais ou menos o sexo dos anjos, sem adiantarem nada, sem se comprometerem com nada, nem sequer partirem nada. Apenas guardei da contenda ouvir a doutoral e universitária senhora, que veio sem vestido preto, dizer o que não pensava, o que não tinha dito, onde não ia, o que não ia fazer e para conforto de todos que Portugal não era uma província de Espanha, que os espanhóis a aborreciam e que ela não lhes fazia nenhum favor.

Só por isso quase ganhava o meu voto.

Mas a parte feia que me leva a fazer este post é alguém pretender ser primeiro ministro, querer exercer o poder sem dizer o que quer fazer e sem se comprometer. Isso é pedir que lhe passemos um cheque em branco. Eu, bancário aposentado, garanto que isso é uma asneira que se paga sempre, mas sempre, muito caro.

Não conheço, nem me dou com ninguém que vote e tenha lido o programa eleitoral dos partidos. Pelos media vai-se sabendo o que cada um pretende ou propõe fazer e vão-se ouvindo os slogans decididos pelos estados- maiores partidários, bem como as palavras dos candidatos.. Agora uma candidata não ser capaz de alinhavar uma discurso coerente que dê uma ideia geral do que pretende, e em nome da verdade (?)pedir o nosso voto, é no mínimo bizarro, para não dizer indecente e imoral senão mesmo obsceno, numa pessoa cujos anos lhe deviam dar os galões de desapego e seriedade.

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