sábado, 5 de dezembro de 2009

Salvadores e pastos


Somos um povo curioso com uma idiossincrasia única. Tenho aqui comigo o Em busca da Identidade de José Gil e leio na página 10 “que somos portugueses antes de sermos homens” numa conduta omnipresente, que engoliu o mundo e permite, assim, que os seus sentimentos flutuem errática e espontaneamente. No caso português, “o sujeito ‘vive¬ se’ como um zero social e pessoal, um falhado, e queixa¬ se de tudo e de todos –– queixa¬ se do ‘país’, nunca de si próprio” (p. 15)
Cada um vive como se o País não fosse dele, digo eu. São os papéis mandados para o chão, é o fumar em lugares onde não se deve, é fazer uns biscates e umas negociatas mas sacar o rendimento mínimo, é pedir que nos ponham na rua para receber o subsídio de desemprego, resumindo, o desrespeito permanente pelo espírito da lei e pelo dinheiro que é de nós todos.
Para o cenário ficar completo convocam-se as carpideiras contratadas pelas televisões a derramarem lágrimas de crocodilo por uma dívida que ajudaram a criar. Isto justifica que determinados factos que seriam politicamente irrelevantes se tornem hiper-fenómenos, e parece haver um D Sebastião, no meio de espesso nevoeiro a comandar as centrais de informação.
A subliminar crença que só há uma solução, esquecendo que um problema tem várias soluções, (um problema em democracia resolve-se com mais democracia, muitos desenlaces) e apelos de jurisconsultos de proveta não sufragados pelo povo a quererem ser Baltazares mas garçons, só de mesa, eis a ideia do caminho único, da despolitização.
Pergunta-se, a quem serve semelhante pasto?

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