quinta-feira, 18 de março de 2010

Rio negro



A vida é o bem mais precioso de que dispomos e a morte (esse nada absoluto) evidencia a sua fragilidade. As reticências postas a um auxílio, a dúvida quanto a um coração que palpita longe, a consciência duma dor que sabemos existir, tudo é preferível à certeza do óbito.
Mais pobre, mais vazio e roubado sou como um rio. Um rio sem pontes. Nasço na serra e caio por entre fráguas, sobressalto-me e caio, caio, caio vezes sem fim no planalto onde encho, engrosso e depois me espraio e espreguiço só e doridamente. Não corro nem vou desaguar ao mar, desvaneço-me, evaporo-me: inodoro, insipido, incumbustivel e incomburente, mas negro como um tição. É assim que me sinto.

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