quarta-feira, 18 de março de 2009

Cântico Branco



Levantei-me com a boca a saber a sangue, e senti-me triste, pois não havia cânticos nem sorriso nos meus lábios. O dia foi-se fazendo azedo à medida que as horas passavam e as soluções dos problemas que me são colocados se aproximavam do zero, numa espécie de cologaritmo da concentração ou da ausência de disponíveis com sentimentos elevados. Por outro lado, por mais exercícios que faça, dos gémeos aos cruzados, há sempre um músculo que me apresenta a conta, ou melhor, me manda consultar o Bilhete de Identidade.
A isto chama-se envelhecer.
Projectei envelhecer serenamente, pensando, lendo e escrevendo uma ou outra linha sem encomenda e só por gosto. Tenho o secreto desejo que me façam avô e me deixem deseducar criancinhas, satisfazendo-lhes todas as vontades e caprichos, deixando-as derrubar livros e bibelots.
Garantem-me que é melhor assim, ter o tempo todo ocupado, ser intermitentemente house kipper e manter o outro, o homem/mulher esse ignoto ser, como razão de existência.
Apre, isto é a mesma coisa que ter trabalho certo, objectivos a cumprir e toda a panóplia de deveres sem poder reivindicar aumento de vencimento, melhor horário, por em causa a competência do chefe, fazer uma greve…
Trabalho voluntário só para gente de carne e osso com espírito de santo.
De carne muita e osso sou, santo não, nem parecido sou…

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