terça-feira, 3 de março de 2009

Escadas, do entendimento?



Escadas sobem-se e descem-se, por vezes depressa demais e com prejuízo. Subimo-las a correr e cansamo-nos, ou galgamo-las abaixo e depressa começamos a contá-las pelos ossos partidos.
Somos pelo ecumenismo. E devemos convir que isso sim, é subir escadas íngremes e sem esteio. Tem de ser devagar, muito devagar, sobretudo quando parece que o próximo passo é simples e evidente.
Isto vem a propósito de não conseguir classificar o meu país como mono cultural ou multicultural. Ambos os qualificativos estão errados. Se fôssemos uma sociedade como a francesa, em cujos princípios a grande maioria se revê, seria mais fácil discorrer sobre o tema. Se fôssemos como nas ilhas britânicas onde parece todos poderem viver, vestir, ou comer à sua maneira, também a coisa era simples. Mas entre nós nada é assim.
Dizemos ser condescendentes, e não racistas, mas se um indiano se cruza connosco exibindo o seu turbante ouve-se por perto uma voz: aos cabeças atadas era fazer de cada um dois; se um inglês, very british, educadamente pergunta seja o que for, escutamos a expressão:- esse inglês do carais o o que é que quer, que aprenda a falar como nós que também aprendemos inglês, patati, patata.

E se contratar uma árabe para trabalhar em casa? Não ponho a hipótese de se ser talhante, contrato-a para trabalho doméstico e isso obriga-a a cozinhar. De certeza que nem a senhora me cozinha a morcela ou a chouriça nem prova o vinho. Se a ponho na rua sou racista se fico com ela sou burro.
Dir-se-á que isto só pode ser dirimido pela lei. Se numa sociedade dita católica como a nossa, um praticante desta fé diz ao chefe: -"tenho aqui ao telefone o senhor fulano de tal", e lhe responderem, "diz-lhe que não estou". Então o bom do cristão, que não pode mentir, fica num dilema pois se o fizer vai para o inferno se não o fizer vai para a rua. Obviamente que isto é o limite. Mas o bom senso por onde anda? Não andará por aí alguém a acelerar de mais? A moral deste país não é a lei. Não o é porque o povo não se reconhece nela, essa é a verdade dolorosa. Fazem-se leis não nas costas do povo, fazem-se leis que o povo estranha, lhes parecem absurdas e depois não lhes liga. As leis começam a ser uma bizarrice do poder, nada de sério. Dar trabalho às ASAEs. Porque quando é a sério, vai-se de enxada ou de escopeta. Ao legislador eu diria slow down.
Assim somos…

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