quarta-feira, 11 de março de 2009

Velhas ao Soalheiro


Nas aldeias da serra é costume ver as velhas à porta das casas, apanhando os raios de sol em amena cavaqueira, forma de dizer no corte ou na má língua, exclusivo desporto mental, e a cometerem o único pecado que lhes resta, murmurar do próximo, neste caso afastado.
A minha terra é uma cidade fria, muito fria. Foi aqui recentemente inaugurado um Centro Comercial idêntico a todos os outros que por esse mundo existem. Vários pisos, muitas lojas, restaurantes, várias salas de cinema, um espaço apreciavelmente grande e agradável. Bem decorado, talvez bonito mesmo e mais importante que tudo isso, equipado com ar condicionado logo aquecido. Pergunta-se a quem lê estas linhas, como será designado este espaço na gíria da população mais velha da cidade? Os reformados e outros desocupados enchem aquela “Praça de Comércio” devidamente amornada, e aí se sentem acalentados e seguros. Então, para meu riso, ouvi um recém reformado ser convidado por outro a aparecer no Centro de Dia.
A minha terra é mesmo sui generis, porque não há paridade mais dissemelhante que estes dois conceitos, Centro Comercial e Centro de Dia. Este poder de apropriação mostra pelo menos que a minha terra está viva, ainda não morreu.

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