quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Coisas fantasmáticas

Mumadona é a minha avoenga favorita porque não sabia nada de futebol e gostava de política. Como em Portugal há um desconchavo e sabe-se mais de futebol a sério e nada de política à séria, adquiri uma formação que é um percurso marginal à identidade nacional. Mas não quero ser ambíguo, quero deixar claro que mesmo em 1966 e em 2004 fui imune à febre futebolística que apossou o país. Claro que no verão de 66 deixei a esplanada da Madrilena e fui lá para dentro a festejar o 4º. e 5º golo contra a Coreia. Em nome da solidariedade familiar, tive que suportar as dores do Portugal/Rússia em 2004, angustiei-me mas não fiquei contaminado.

As siglas e marcas, mesmo desportivas, que marcaram a minha juventude e que eu detestava estão quase todas mortas e enterradas. Sem citar as comerciais que as há, refiro aleatoriamente algumas das institucionais: SNI, UN, MP, Legião Portuguesa, Exame Prévio. Deixo para o fim uma que abominava e que sobrevive e que sei que é injusto misturar com aquelas, o Benfica. Tenho relações afectivas com muitos benfiquistas a começar pelos meus filhos, mas não consigo engolir semelhante etiqueta, mais pelo que representou do que por aquilo que é, por sinistras que tenham sido as suas figuras de proa.

Há muito pintei para mim o benfiquista: um tipo baixo, impante, cabelo com brilhantina penteado para trás, bigode fininho e o emblema com a águia ao peito. Agora fiz-lhe um upgrade: é um fulano com o mesmo ornamento alado, malcriado, autocrata, ressabiado, de laço vermelho (linda cor) ao pescoço e verdadeira ameaça ao estado democrático.

1 comentário:

AnaLu disse...

Chama o Gatsby para perto de ti. Pode ser que afugente os fantasmas! ;)