terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mi Casa


Apetece-me falar dos meandros labirínticos de mim próprio ou melhor, de coisa minha, da minha casa onde hoje não tenho água.
É uma casa quase igual a todas. Só que esta foi feita por mim para eu morar nela. Tem centenas de metros cúbicos sem portas, cinco níveis diferentes que no conjunto compõem garagem, dois andares e águas furtadas. Claro que os quartos, as casas de banho, a cozinha e uma sala, apenas uma, foram equipadas com portas. O resto é open space. Foi assim que decidimos e por isso diariamente pagamos. Mas vale a pena. Prefiro o frio gélido que tem feito e é favorável aos fantasmas, meus e dos outros. Podem criar-se todos os círculos mágicos, desde o hall inferior ao superior que garanto nenhuma entidade desencarnada incomoda outra. Há espaço, há tempo, há frio, só não há medo. De vez em quando, muito de longe em longe, plasmam-se figuras conhecidas no espelho que guarda o hall inferior, o mais usado da casa. Uns aparecem de chapéu transparente, outros vestidos de cristal. Nenhum projecta sombra e nunca se lhe vêm os pés. Apenas sucede, quando o caldinho de emoções de que somos feitos ferve, e verte uma ou outra gota. Então estabelece-se um diálogo impossível de reproduzir. Mas posso dizer que se fala do passado e dos medos daquilo que pode vir. Recordam-se bons e às vezes maus momentos, dependendo mais do fantasma de serviço. Mas é sempre agradável. Ser-se livre, coração puro, respeitar tanto os vivos, como os mortos, ainda assim respeitar mais aqueles que estes, leva-nos a um estado catártico que nenhuma falta de água pode tirar.
A parte que mais aprecio são as fintas que nos fazem. Obrigam-nos a procurar aquilo que não acharam e sabem de fonte segura não encontraremos. Suponho que é um jogo, um entretém sem fim que ninguém entende e nenhum pode levar a mal.

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