segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Têm muitas, muitas dívidas



Os pobres hoje não se distinguem dos ricos. Muitos conduzem automóveis e são ambíguos nas suas necessidades. Não faço ideia se será vivo o Capitão Oliveira Dias. O homem que à viva força queria que os soldados sargentos e oficiais usassem fardas diferentes de cor e talhe; um bom conceito de uniforme… Mas ele, com a elegância possível da asneira, ia dizendo que só depois de falar algum tempo com a pessoa é que se via quem era. Senhores, isto não tem mais de 35 anos. Os códigos e sinais que transportamos desvaneceram-se. É necessário uma sabedoria singular para identificar o novo pobre, porque não parece nem se apresenta como tal.
É possivelmente a pior das pobrezas: a pobreza envergonhada.
O pobrezinho maltrapilho, escanzelado, e agradecido há muito que não existe. Alguns frequentaram o ensino secundário, ou têm uma licenciatura, pós graduação, andam de automóvel com GPS, dão gorjeta quando abastecem nas gasolineiras, utilizam telemóveis topo de gama, sempre auxiliados pela família, foram até um estágio remunerado, e se por acaso arranjam emprego, não vão além de operadores de supermercados com contratos a termo certo, corridos que foram do ensino, o grande saco de gatos que tudo absorvia. Fazem parte da lista de clientes de todos os bancos, já usaram toda a panóplia de produtos de crédito e agora constituem a lista de utilizadores de risco do Banco de Portugal, a temida e mal frequentada Lista Negra.
Passam mesmo fome. E a fome é má conselheira. Não os obriga a deixar de fumar, nem deixar de querer ter um plasma nem outros gadjets, nem deixar de desejar nada. São indigentes exigentes e sentem-se legitimamente com direito a tudo. A cabeça desocupada é oficina do Diabo e homem em jejum não ouve nenhum. Então, arranjar dinheiro de qualquer forma torna-se lícito. A falta de emprego, não a falta de trabalho, nestes casos, pode levar à rotura do tecido social e aí sim, nem o ex PR e preclaro Dr. Mário Soares sabe onde isto vai acabar.
Mas uma coisa é certa, parafraseando Guterres, se os ricos não resolverem os problemas dos pobres, eles resolvem-no e depois, digo eu, não haverá muito para distribuir.

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