domingo, 28 de dezembro de 2008

Pobres dos Ricos


Neste 2009 cujo parto se adivinha anormal, para já com um atraso de 1 segundo, visto 2008 ter mais um que o habitual, e depois tanta neve e frio, vamos ver chorar e chorar com os ricos. Aqueles que ontem diziam que não arriscariam um chavo num investimento porque esses filhos da puta os não deixavam trabalhar, e engrossavam a voz respondendo-me que isso que tu dizes pá até era negócio, dava trabalho a muitos, desenvolvia a região, mas ninguém agradece e é bem melhor pô-lo a render, tu sabes onde, juro que não sabia, e assim ninguém me chateia. Investidores cheios de segurança nas dicas de bancários, seguríssimos plutocratas de duvidosa idoneidade, são esses agora que pedem aos mesmíssimos filhos da puta que os protejam e lhes devolvam aquilo que acham que legitimamente é seu. Que só fizeram um depósito a prazo, com outro nome, é óbvio.
A estupidez, o dolce far niente, a ganância ingénua e melíflua, de repente, num golpe de mágica tornou-os nos indigentes que sempre foram. "Só se sabe que perdemos aquilo que jamais tivemos", dizia o poeta. Coitados dos ricos e das ricas, com o "seu ar tão nobre e tão de sala" que davam cor e números à agência, presentes nas reuniões de boa vontade, nos chás de caridadezinha, na cedência absolutamente, este absolutamente é dito sílaba por sílaba e uma oitava acima, gratuita e generosa do seu tempo em campanhas das 15 às 17, hora a que sai o Martim João. Incapazes de aguentarem as dificuldades da produção de riqueza, a transformação, da manufacturação, caíram na especulação bolsista, numa panóplia imensa de produtos de nome e perfis de retroversão inglesa. Eram esses que de tempos a tempos davam um ar mais cinemático às vidas dos mais pobres quando associados. Recorria-se a eles e depois na aparente generosidade davam exactamente, ou um pouco menos, do que qualquer de nós daria depois de bem conversado. Depois há os mesmo ricos, os que exercem o seu poder sobre os políticos. Mentores duma promiscuidade sem vergonha, entre politica e economia, apostados num porquíssimo Portugálio. Naturalmente que isto é transversal a todos, muito poucos, os grandes ricos que recrutam no bloco central e às vezes nas franjas mais extremistas, sabedores que são que a juventude é a única doença que passa com o tempo. Agora que se fala de recessão e se tratam os banqueiros umas vezes como meninos de couro, meninos cuja carapaça ultrapassa o coiro dum hipopótamo, outras como criminosos, esquecemos quem ganhou com o petróleo a 147 dólares, quem especulou com os bens alimentares, quem serviu quem.
Pós 25 de Abril ouve duas coisas onde todos, isto é, a sociedade portuguesa falhou: na educação e na justiça. Na educação os especialistas de eduquês e na justiça os jurisconsultos que digam porque é que se pesca melhor em águas turvas. O próximo ano não vai ser assim tão negro, vai ser um ano como muitos já foram. O ser humano, enquanto espécie, soube sempre responder às dificuldades e problemas que lhe foram postos.
Talvez nem Marx, nem Keynes, nem Leão XIII tenham a solução. Talvez a ética e a estética estejam à espreita por entre estes dispositivos electrónicos por onde escrevemos e comunicamos.
2009 Ano da Ética mais libérrima regulada pela Estética.
Que coisa mais linda….

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