quarta-feira, 20 de maio de 2009

Falando de decadência


Já escrevi aqui que as sociedades se fundam no maior respeito pelos valores éticos e a sua decadência fica a dever-se à falta do acatamento dos mesmos. Isto vem a propósito de duas situações que hoje vão fazendo notícia: o caso BPN e a professora de Espinho. Qual das duas é mais grave? Parece não ter nada de semelhante mas vejamos. Um senhor ex membro do governo funda um banco associando-se a um grupo de inocentes seus ex-colegas de poder. Onde foram buscar o capital inicial e que coberturas tiveram não interessa, interessa-me mais a sua prática. Há uns bons cinco anos, era questionado por vários clientes para explicar como é que aquele banco podia pagar taxas de juros que eram na altura o dobro do que eu oferecia. Claro que explicava que as taxas variavam de acordo com o risco, o prazo, a liquidez e a confiança. Dizia sempre meio a brincar que se o negócio fosse assim tão bom as pessoas fariam fila lá à porta e quem tinha a fila sempre à frente era eu. Sabia-se que açambarcavam moedas comemorativas e outros negócios bizarros. Mas também sabíamos que os colegas do BPN que andavam na praça pagavam era o dinheiro a qualquer preço, precisavam dele viesse donde viesse e a que custo fosse. O crédito era concedido em pequenas tranches e a taxas bastante baixas. Abusou-se da confiança e aumentou-se o risco. O resultado é conhecido só porque os princípios não foram respeitados.

A professora de Espinho numa aula de História explicou mal o que eram as orgias romanas, sinal da decadência do Império. Ouvi e admito que a gravação tivesse sido editada, e que pusessem no ar frases tiradas do contexto. Mesmo assim a senhora errou. As orgias romanas eram o império do gozo total, renovado à exaustão. Todos os sentidos e prazeres eram convocados, mas ao contrário do que a senhora disse não eram sessões de antropofagia. À parte a violação dos meandros mais íntimos da alma daqueles alunos, esta senhora doutora também não respeitou o mais elementar princípio de quem ensina, saber o que se ensina.

Assim quer o dr Oliveira e Costa quer esta senhora doutora dão sinais preocupantes da decadência da nossa sociedade, pois nenhum respeita os princípios e têm legiões de advogados a defendê-los.

Imponham números clausus em Direito e acabem com eles em Medicina. Teremos melhor justiça e mais saúde.

Estas histórias são tão feias, tão feias, que chegam a ser imorais.

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