quarta-feira, 13 de maio de 2009

Muro de Indiferença


Há na Mitologia Grega o conceito de três mulheres que decidem o destino. Fabricam, tecem e cortam o fio e o tecido da vida de cada um de nós com a roda da sorte, o seu tear.

Ela, 40 anos, corpo magro, um metro e sessenta, olhos azuis, cabelo louro e a cara marcada por sulcos de histórias de dor que já não recorda, ou prefere não lembrar. Aparenta ser doente bipolar, com comportamento ciclotímico da hiperactividade à depressão profunda. A única constante é a propensão para a destruição, quebrar tabus, regras e partir ou mandar partir tudo. Procura a perfeição do caos, resiste à medicação.

Ele, 41 anos, moreno, meão, magro, aparência descuidada, vagamente resineiro, abúlico, e os neurónios há muito ardidos em repetidas fogueiras de álcool.

Embora nascidos longe um do outro o fio da vida de ambos foi tirado do mesmo fundo do tear da sorte. Juntaram-se, e à desgraça mais desgraça se juntou: doença, fome, frio e álcool, tudo em excesso, tendo por corolário após multiplos episódios de violência doméstica, o atearem fogo à casa/tugúrio em que viviam.

Não faço ideia quanto o Estado gasta na protecção de pessoas assim, desestruturados sem eira nem beira. Sei que é muito, e ontem fiquei a saber que quem não vende solidariedade e a faz, depara com um imenso e quase inexpugnável muro de indiferença por parte dos serviços criados para darem a resposta que se pretendia fosse pronta, eficaz e adequada.

Aos serviços da Segurança Social que têm meios, recursos e muitos, muitos regulamentos e siglas falta-lhes e a quem lá trabalha algo. Algo que anda arredio dos tais regulamentos e das siglas, probidade e humanidade.

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