sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Crepúsculo


A ficção que se segue poder-se-ia ter passado em Portugal e começado há trinta e quatro anos. Foram tempos de mudança aqueles, tempos que todos queriam fossem de verdade. Mas se é certo que quando todos choram alguém vende lenços, também é verdade que quando todos entram em processos de catarse, de higiene e limpeza há quem esconda o lixo debaixo do tapete comprometendo o futuro.

Era uma vez um cavalheiro, verdadeiro plutocrata e naturalmente conservador, que geria uma empresa de combustíveis. Tinha como cliente preferencial uma grande empresa de transportes. O seu negócio era a venda de produtos derivados do petróleo e com o choque petrolífero o dinheiro jorrava. Em pleno Prec decide emigrar e entregar o negócio a familiares em quem confiava, entre eles um promissor jovem. O tempo passou, as paixões políticas arrefeceram, a turbulência cessou, houve uma involução e veio o refluxo dos velhos senhores que por medo ou má consciência tinham partido.

Nem tudo foram rosas para os que regressaram dos Brasis. O homem já tinha ouvido qualquer coisa, mas pasmou, quando viu a sua firma de pantanas e o parente com outra, próspera, fornecendo os seus ex-clientes incluindo o seu cliente âncora. Compreendeu de que matéria era feita a sua gente. Não degeneravam, gostavam de dinheiro como ele. Desesperado pede contas.

O familiar, autor de tão ético comportamento, foge, dribla responsabilidades e mete-se nos meandros da política, escudando-se sob a máscara de figura pública. Era vê-lo em reuniões sociais a insinuar-se com o belo sexo. Mas não era esse, (o sexo), o seu verdadeiro objectivo, mas as suas massas. Viúvas ou divorciadas, tão mais lindas e apetecíveis quanto mais balzaquianas e ricas.

Honestidade e lealdade são conceitos abstractos e não entram na folha de caixa nem no Plano Oficial de Contas. Abusando da confiança de muitas e muitos prosperou, vendendo “formaturas” bem pagas enriqueceu, mas ludibriando e aproveitando a fraqueza do próximo comprometeu irremediavelmente o futuro.

Anos volvidos, rondando a insolvência, pois a crise chega a todos, com compromissos em falta e salários em atraso, o vendedor de banha da cobra, demagogo, cara de… português suave encalha, ninguém o acredita e vê a sua vida devassada. Prepotente e irascível, injusto e autocrata como garantem os que com ele actuavam, pôde, como todos os mentirosos, enganar alguns todo o tempo, e enganar todos algum tempo, não pôde enganar todos todo o tempo. Debateu-se, e no final perdeu ao deparar-se de trombas com a verdade na mão dos outros

A hora da verdade tardou mas chegou e impossibilitou mais uma meteórica fuga pela política; a barreira da verdade foi demasiado alta, intransponível.

Eis um conto sem bons, só com maus, já que só refere perversidade.

E se este texto não fosse só ficção e se qualquer semelhança com a realidade não fosse pura coincidência…

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