terça-feira, 6 de abril de 2010

O que povo gasta


Será que o povo português, esse bolo físico e mítico entende que a actual situação económico-social seria francamente pior se não vivêssemos em democracia? Não sei…

Ouço, demasiadas vezes para o meu gosto, pessoas dizerem que nunca mais votam. Respondo meio a brincar que Salazar, lá no outro mundo, dá pulos de contente. Depois a conversa flui e ouve-se: o que cá faz falta é uma ETA, tem que se fazer uma revolução, julgar sumariamente estes parasitas, fuzilá-los e outros mimos semelhantes. Estas conversas ocorrem quando quem fala aproveita um momento de compensação, um instante de desabafo para descarregar as frustrações ganhas no trabalho e portanto não as levo demasiado a sério. Mas é bom perceber-se que não falo duma só pessoa. São bitaites que se ouvem aqui e ali.

Ouvir dia sim, dia sim, referências a Sócrates ou a Portas permanentemente envolvidos em suspeitas, o cherne Barroso salpicado pela merda que a Spiegel diz que o cônsul em Munique fez, a hipocrisia ser levada ao extremo e dizer em primeira página que foram descobertos pecados novos do presidente fulano ou do secretário geral cicrano, pode desanimar o mais crente nas virtudes da democracia. Quase damos razão à Ferreira Leite e desejamos meio ano de ditadura para descansar de tanta verdade… (abrenuncio, abrenuncio, abrenuncio). Ninguém inventou nenhum pecado novo. Comportamentos sexuais desviantes sempre os houve episodicamente, sobretudo em colégios dum só género e diferenças geracionais marcantes, incluindo seminários, católicos ou não. Basta ler os clássicos ou ver alguns filmes. Neste instante recordo um baseado num romance autobiográfico cujo autor é quase nosso conterrâneo. Tomar a parte pelo todo, generalizar, espalhar trampa por toda a parte é o que está a dar.

Nada é a preto e branco e não podemos ser maniqueístas. As coisas são mais simples ou se quiserem muito mais complicadas num dégradé permanente. Mas exumar noticiais, reciclá-las para as vender de novo, não justifica este ambiente em que se fica com a sensação de tudo cheirar mal.

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