segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um candeeiro sobre o Tejo


Uma ocasião visitei um amigo acamado, no hospital donde já saiu morto. Na conversa, que ambos sabíamos ser a última que teríamos, falámos de pouca coisa, mas por razões que se adivinham falámos de suicídio. Julgo ter sido ele que referiu uma ideia de Unamuno, que eu já conhecia, para quem a diferença entre espanhóis e portugueses era sobretudo o de nós sermos suicidas e eles, espanhóis, matadores. Dava aquele Miguel (um dos grandes da Ibéria) como exemplo o do suicida Buiça ter suicidado o suicida Sr D Carlos I. Como este assunto, (suicídio), foi sempre uma espécie de Via Sacra de que fugi sempre que pude, acabei por dizer, e não circunstancialmente, que todos os que se suicidam, fazem-no porque têm medo da morte, não da vida. Não posso entrar em empatia com um suicida. Juro não saber se para tal é necessária coragem ou muito medo de morrer cumprindo as leis da vida.

Mesmo fugindo para a frente, foge-se. Quando se foge é por medo. E quando se caminha determinado para a morte, foge-se da vida ou da tragédia que ela contém?

Mas a fava no bolo é esta. Ela, a morte, apanha-nos a todos em vida. Nem é preciso desligar, ela funde-se por si e nunca sabemos quando, a hora exacta. Ter consciência disto é o sentimento trágico da vida.

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