quarta-feira, 26 de novembro de 2008

De volta ao Anel


Anel de oiro posto no cadinho, rituais gestos alquímicos, fogo e tempo. Eis uma espécie de acto mágico, de transmutação.
Vem isto a propósito dos anéis dos micélios, que por vezes nos transmutam em defuntos. Tiremos-lhe o oiro, e do cadinho façamos um vulgar tacho de cozinha. Aos rituais gestos chamemos abluções necessariamente internas com os desinfectantes iniciáticos, vinho, jeropiga, aguardente e outros santos óleos.
Há encontros e workshops sobre cogumelos, tortulhos, (agaricus campestrís) míscaros, sanchas e outros bolores. Desde tempos imemoriais que quem mais conhece e mais sabe disto são os pastores, e todos os anos lemos notícias da morte dum ou doutro que confundiu o comestível com o saborosamente fulminante.
Meninos de cidade sem formação nem experiência, pouco mais que iniciados, cavalgando novos rocinantes, vulgo TT, em breves semanas tornam-se experts na matéria. Apanham-nos em proibidos sacos de plástico e não na regulamentar cesta de vime com buracos suficientes para os esporos se espalharem. Não é o anel ou a sua ausência que os mata, será o fascínio pelo bosque, o pisar o risco, a adrenalina, o fogo, o desafio à morte, ou a inconsciência de impunemente poder violar as leis dos homens, de Deus e da natureza. Que falta a este mortífero anel?

1 comentário:

AnaLu disse...

Desta vez acertaste em cheio! A escolha de palavras dos dois primeiros parágrafos não podia ser melhor num post dedicado ao Manel X. Mas atenção! Olha que não é minha intenção exumar medievas logomaquias!