sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Dia dos prodígios


Ontem foi um dia de prodígios. A minha mulher acompanhou-me numa voltinha. Descemos as escadas da Montanha a ver as obras na rua D. Diniz. Já que ali estávamos descaímos à Travessa do Povo. No alinhamento da muralha, ostentando orgulhosa e em granito a inscrição 1920, lá estava a velha casa onde nasci. Fui explicando, apontando para as janelas as divisões da casa, e eis senão quando entrei no terreiro que levava à garagem do padre Isidro. Esse terreiro era o mundo além das casas da família e aí brinquei e brinquei, joguei e joguei. Possivelmente o lugar (ou o tempo?) onde fui mais livre e mais me diverti. Brincava-se ali a tudo, desde os carrinhos, aos triciclos, ao arco com e sem gancheta aos intermináveis jogos de futebol. Muitos ali jogaram, mas os permanentes eram o Li e eu. Era um campo de dimensões apreciáveis e ontem aquilo era mesmo um pátio pequeno com quatro abarracadas garagens. Há muito ali não entrava, pois até a casa do Li, ou o que resta dela, me pareceu mais pequena. Parecia o dia dos prodígios, o muro prolongamento da muralha e altíssimo, ontem pouco mais alto era que eu.
Sei que cresci, engordei e envelheci, mas que as coisas tivessem encolhido…
Não há dúvida, o homem é a medida de todas as coisas.

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