terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

16 de Fevereiro



Faz hoje 34 anos, ainda não era meio-dia, faltariam um ou dois minutos, quando uma freira abria a porta da sala de operações do antigo Hospital da Guarda, trazendo uma trouxinha com um bebé. Uma criatura delicada coberta com uma espécie de véu. Véu que não existia, mas eu via. Não era o véu da fantasia nem o da imaginação, nem o dum sonho. Por debaixo daquele véu que estava apenas nos meus olhos, estava a realidade e uma pessoa. A partir daquele momento entendi na carne que tinha como se fosse mais um órgão, passava a ter uma função a tempo inteiro. Mal a freira me passa a trouxinha para os braços senti que tinha nas mãos qualquer coisa de muito frágil e tive imenso medo que se estragasse, que se partisse, passando-a de imediato à minha querida tia Clotilde, e segurei-me disfarçando o desconforto encostando-me numa mesinha redonda com camilha mas sem cadeiras. Recordo as feições perfeitas do bebé com uma espécie de borbulhinhas nas maçãs do rosto, e um ar de incómodo. Possivelmente eu teria já fumado vários cigarros, mas disso não me recordo. Lembro-me do cheiro a éter e de repetir a pergunta vezes sem conta a todos, inclusive ao Dr Ascensão, obstetra retornado de Moçambique, pessoa extremamente afável, simpática e exímio profissional que tinha feito a cesariana. Ninguém respondia à questão: como está ela? A minha mulher grávida era até àquele Domingo a pessoa mais importante do Mundo. O Dr Pissarra de Matos médico anestesista e pessoa amiga, cuja esposa D. Elisa para mim a Menã, me acompanhava no momento, hoje já ambos num mundo melhor, havia poucos minutos perguntava-me se ela , a minha mulher, tinha deixado as veias em casa, e com um sorriso questionava-me se queria um rapaz ou rapariga. Havia para aí um quarto de hora era ela a pessoa importante do processo. Depois entendi que ela era a segunda mais marcante. Não foi fácil entender que aquele estranho, recém-chegado a quem dei o nome Manuel, nome dos dois avós e um dos meus nomes de baptismo, e Alexandre nome de rima engraçada e de compromisso do gosto dos progenitores, passaria a ser a pessoa que condicionaria a nossa vida a partir daquele momento. Parabéns Xanito, homem das terras altas, vieste porque foste muito desejado, feito com muito amor, e sob total responsabilidade minha e de tua mãe. Mas agora a vida é tua e isso é outro post.

1 comentário:

Lynx disse...

em relação ao outro post... fico a aguardar...

1º... gostei de relembrar essa gente toda, que saudades...
2º... obrigado por me terem posto o véu.. e com ele me agasalharem a vida toda. sem vós antes.. e durante não haveria certamente este post no ano que corre.

um beijinho muito grande a vós, e MUITO OBRIGADO!!!

Manel-do-véu!