sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Simetrias


O Gatsby é um cão, tão humano como todos os cães. Sofre de todos os males e doenças próprias dos homens, sobretudo as psicológicas. Se saio, ocupa o meu lugar na sala, se os sofás estiverem todos ocupados recusa o lugar que lhe indicam e fareja o recém-chegado e nos dias de festa, se for deixado sozinho, arranja forma de mostrar o seu desagrado ficando de trombil até que lhe fale e faça uma festa, o que de inicio recusa. Tem gloriosos antepassados que participaram em caçadas com imperadores, reis, arquiduques, duques e outros dispendiosos inúteis, embora o galgo fosse também o animal de companhia da burguesia. Tem fantasmas que respeita e estima muito, com os quais estabelece diálogo ainda que indecifrável, sempre que entra num estado de semi consciência, pré adormecimento ou lá o que é, experimenta espasmos de ritmos idênticos ao batimento da mesa de pé de galo. As patitas desenham um traço ponto que ainda não aprendi a decifrar, mas sei a limitação ser minha. Quem conhece a história da máquina alemã Enigma sabe de que falo.
Este “Canis Lúpus”. é sempre bom dar uns ares que sabemos, fiquemo-nos pelos ares, é um Whippet. É filho de campeões e daí lhe vem o pedigree canino, mas quem sabe um pouco mais, garante que ele participa do grande caudal de sabedoria secreta que escorre pelos espelhos e outros pontos de simetria. Concebamos um ovo vulgar, facetemo-lo em miríades de faces, imaginemo-lo incolor e transparente, e ei-lo, o acompanhante daquele não existente que ontem me contou detalhes do namoro de D. João I antes do ser. Coisa engraçada, conforme escrevo e faço referência àquele não vivente, põe-me as patitas no braço esquerdo e parece querer falar. Mas agora, fecho-me a outras sensibilidades, mesmo às caninas. Fica aqui apenas a referência das relações que ontem me foram confiadas entre Álvaro Pais e João das Regras. Álvaro Pais burguês abastado, foi chanceler-mor de D. Pedro I e de D. Fernando I, foi um homem superiormente inteligente, padrasto de João das Regras que além de enteado foi seu brilhante aluno, teve artes de convencer D. João a mandar João Fernandes Andeiro, o Conde Andeiro a encontrar-se com o Senhor mais cedo que era suposto.
Já na Europa não havia feudalismo e Portugal era uma sociedade feudal.
O sinal mais evidente dos novos tempos que aí vinham é dado por aquele ex-chanceler: a crescente importância da emergente burguesia.
Quando D João teve dúvidas e lhe disse que não saberia ser rei, respondeu-lhe: senhor basta dardes o que não é vosso, prometerdes o que não tendes e perdoardes a quem jamais vos ofendeu. Só por si, isto é um verdadeiro tratado politico.

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