domingo, 22 de fevereiro de 2009

Há máscaras e máscaras


Pôr uma máscara, fazer-se passar por algo ou outrem, adquirir outra identidade ou aproximar-se de determinada forma de poder é um ritual comum a várias culturas. Faz parte de cultos frequentes em religiões, seitas, sociedades secretas, e até em nossas casas, quando afivelamos a máscara do doente ou do forte. Se o doente coloca a máscara do são é mais que meio caminho andado para a cura. Se o são resolve por a do doente arranjou senha para a cama do hospital.
A máscara tem um poder oculto, sim. Experimentem, se querem ver o que é a autosugestão consciente.
Em todas as sociedades o uso da máscara é sempre um acto meio misterioso, meio proibido, meio concedido. Há sempre a violação do cânone, do preceito, da norma. Há a anomalia consentida como escape à regularidade.
Todas as regras do esoterismo tendem sempre para o maniqueísmo. Quem a põe é sempre o bom, mesmo que faça o papel de mau, porque é-se outro, perde-se a personalidade e ganha-se um poder meio estranho, pois o dano que se faz é doce e sabe-se que não é feito por mal. Não é para ferir assim tanto e aproveita-se para esconjurar antecipadamente os resultados face à dor infligida à vítima e ao escárnio da populaça. Depois de séculos usando adereços como símbolos do poder, da sabedoria e da força, desde as mascarilhas douradas aos cornos e às serpentes, atinge-se a pureza radical. Corpos jovens nus ondeando, apenas maquilhados e oleados onde é preciso e sugestivo, torneados, com cada músculo digno dum tratado de anatomia. É o despojamento de tudo, a forma sublime e simples de dizer aquilo que o homem é, depois de descascado da norma. Um macaco sem rabo, cheio de pretensões e estranha dignidade

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