terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Terça feira de Carnaval


Terça-feira de Carnaval, subo as escadas da minha outra casa, a casa de minhas tias. Há luz no hall e o canapé desmesurado e iluminado pelo sol sobressai à direita. Nunca tinha dado por ele e ei-lo a causar impacte agora que coberto de luz. Um velhinho, pessoa muito ligada à família e meu homónimo inicia, com nítido sacrifício, a subida. Ficando a dever qualquer coisa à educação desato a correr, passo por entre todas, e entro na cozinha entregando-me nas mãos das que tinham tudo que eu gostava e me animavam. O velhinho e eu éramos do género diferente de toda aquela gente. Aquilo era um verdadeiro gineceu. Pela primeira vez tive um assomo de consciência e acto continuo senti saudades de mim, melhor, talvez começasse a ter saudades de quando ainda não tinha nascido.
Aquele dia, foi um dia de conhecimento, quase de revelação, a diferença entre o bem e o mal, nasci para o mundo não tinha ainda oito anos. Percebi que o Carnaval tinha algo de pecaminoso, mesmo de proibido. Comecei por ser uma criança alegre e tornei-me num homem contente de sorriso quase sempre triste. Tive a certeza que por entre a chuva suave e serena havia punhais que caíam a pique
Ainda agora sou uma espécie de ferro, bem volumoso, que flutua, coisa pesada que bóia na fluidez.
Terça-feira de Carnaval, evoco outros tempos doutra gente. Nem na altura, nem hoje sei o caminho. Mas creio saber a missão.

1 comentário:

Lynx disse...

mvito á frentis...
o tempo passa a correr msm....