sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fotografia


Gosto de fotografia independentemente de ser ou não uma arte menor. Faço-a porque gosto e vale mais um gosto que 500 mil reis na algibeira. Passei anos a fotografar pessoas quer em dias de festa quer no seu dia a dia. Ouvi silêncios e elogios vários, até fechar os ouvidos quando me apelidaram de coração ruim porque as minhas fotos mostravam deliberadamente as rugas na cara das senhoras e não as edito em Photoshop. Julgo-me, ou melhor, sinto-me novo, leve, subtil pairando acima da realidade e as minhas fotos mostram-me como sou: gordo, barrigudo, pesadão, velho e bem agarrado à terra. Poucas vezes, muito poucas vezes, quis cristalizar o momento. Na generalidade das vezes quis apanhar a alma das coisas ou das pessoas, objectivo nem sempre conseguido, mas sempre perseguido. Há pessoas que basta olhar para elas e vemos o ângulo facial certo, o olhar exacto, que dialogam com a objectiva. Há as coisas que nos transmitem beleza e luminosidade natural. Depois há o universo das coisas triviais e amorfas. aí reside a arte de quem manuseia a máquina, desde o saber segurar o aparelho com segurança, escolher um fundo neutro e com poucos elementos, procurar o close-up, ter atenção à luz e saber aplicar a regra dos terços. Se alguém pensar assim, garanto não conseguir nenhuma boa fotografia, só em estúdio, com sorte e com coisas sem vida.
Fotografar é um pouco mais que isto.

1 comentário:

E disse...

Bem me pareceu que era fotógrafo!

Já agora parabéns pelas excelentes fotografias da Guarda com que ilustra o seu blog.

Esta que colocou neste post é fantástica.